segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um a frente, dois para trás

Havia esquecido, mas foi meu professor de direito constitucional, Flávio Martins, quem nos falou sobre os referendos que foram realizados durante a eleição americana. Dentre eles foi perguntado a todos os estados americanos se são contra ou a favor do casamento gay. De forma retumbante, todos disseram não. Uma unanimidade.

Em meio a aula sobre Poder Legislativo, fiquei assustado com essa realidade. Os analistas foram unânimes ao dizer que a eleição de Obama foi um avanço. Infelizmente, insiste em não calar o questionamento se esse é o mesmo país que disse não a união civil entre gays.

Foi com essa informação em mente que tive a felicidade de encontrar no blog de André Damher, o mesmo da atualização abaixo, um enorme comentário de uma jornalista sobre a questão.

Vai abaixo as partes mais expressivas do post. O texto é longo, mas vale a pena.

O âncora Keith Olbermann, da MSNBC, fez um comentário emocionante (e emocionado) sobre a aprovação da Proposta 8, que baniu o casamento entre homossexuais na Califórnia. A tradução é do Diário de Bordo. E a dica, de Arnaldo Branco:


“Alguns esclarecimentos, como prefácio: não é uma questão de gritaria ou política ou mesmo sobre a Proposta 8. Eu não tenho nenhum interesse pessoal envolvido, não sou gay e tive que me esforçar para me lembrar de um membro de minha imensa família que é homossexual. (...) E, apesar disso, essa votação para mim é horrível. Horrível. (…) Porque esta é uma questão que gira em torno do coração humano – e se isto soa cafona, que seja.

Se você votou a favor da Proposta 8 ou apóia aqueles que votaram ou o sentimento que eles expressaram, tenho algumas perguntas a fazer, porque, honestamente, não entendo. Por que isso importa para você? O que tem a ver com você? Numa época de volubilidade e de relações que duram apenas uma noite, estas pessoas queriam a mesma oportunidade de estabilidade e felicidade que é uma opção sua. Elas não querem tirar a sua oportunidade. Não querem tirar nada de você. Elas querem o que você quer: uma chance de serem um pouco menos sozinhas neste mundo.

Só que agora você está dizendo para elas: “Não!”. “Vocês não podem viver isto desta forma. Talvez possam ter algo similar – se se comportarem. Se não causarem muitos problemas.” Você se dispõe até mesmo a dar a elas os mesmos direitos legais – mesmo que, ao mesmo tempo, esteja tirando delas o direito legal que já tinham (o do casamento civil). Um mundo em volta deste conceito, ainda ancorado no amor e no matrimônio, e você está dizendo para elas: “Não, vocês não podem se casar!”. E se alguém aprovasse uma Lei dizendo que você não pode se casar?

Eu continuo a ouvir a expressão “redefinindo o casamento”. Se este país não tivesse redefinido o casamento, negros não poderiam se casar com brancos. Dezesseis Estados tinham leis que proibiam o casamento inter-racial em 1967. 1967! Os pais do novo Presidente dos Estados Unidos não poderiam ter se casado em quase um terço dos Estados do país que seu filho viria a governar. Ainda pior: se este país não houvesse “redefinido” o casamento, alguns negros não poderiam ter se casado com outros negros. (...) Casamentos não eram legalmente reconhecidos se os noivos fossem escravos. Como escravos eram uma propriedade, não podiam ser marido e mulher ou mãe e filho. Seus votos matrimoniais eram diferenciados: nada de “Até que a morte os separe”, mas sim “Até que a morte ou a distância os separe”.


O casamento entre negros não era legalmente reconhecido assim como os casamentos entre gays (...) hoje não são legalmente reconhecidos.

(...)

E em que isso interessa a você? Ninguém está te pedindo para abraçar a expressão de amor destas pessoas. Mas será que você, como ser humano, não teria que abraçar aquele amor? O mundo já é hostil demais. Ele se coloca contra o amor, contra a esperança e contra aquelas poucas e preciosas emoções que nos fazem seguir adiante. Seu casamento só tem 50% de chance de durar, não importando como você se sente ou o tanto que você batalhará por ele. E, ainda assim, aqui estão estas pessoas tomadas pela alegria diante da possibilidade destes 50%. (...) Com tanto ódio no mundo, com tantas disputas sem sentido e pessoas atiradas umas contra as outras por motivos banais, isto é o que sua religião te manda fazer? Com sua experiência de vida neste mundo cheio de tristeza, isto é o que sua consciência te manda fazer? Com seu conhecimento de que a vida, com vigor interminável, parece desequilibrar o campo de batalha em que todos vivemos em prol da infelicidade e do ódio... é isto que seu coração te manda fazer?


Você quer santificar o casamento? Quer honrar seu Deus e o Amor universal que você acredita que Ele representa? Então dissemine a felicidade – este minúsculo e simbólico grão de felicidade. Divida-o com todos que o buscam. Cite qualquer frase dita por seu líder religioso ou por seu evangelho de escolha que te comande a ficar contra isso. E então me diga como você pode aceitar esta frase e também outra que diz apenas: “Trate os outros como gostaria de ser tratado”.


O seu país – e talvez seu Criador – pede que você assuma uma posição neste momento. Um pedido para que se posicione não numa questão política, religiosa ou mesmo de hetero ou homossexualidade, mas sim numa questão de Amor. (...) Você não tem que ajudar ou aplaudir ou lutar por ela. Apenas não a destrua. Não a apague. Porque mesmo que, num primeiro momento, isto pareça interessar apenas a duas pessoas que você não conhece, não entende e talvez não queira nem conhecer, é, na realidade, uma demonstração de seu amor por seus semelhantes. Porque este é o único mundo que temos. E as demais pessoas também contam."

Publicado originalmente em www.malvados.blogger.com.br

Poderia tecer alguns comentários, mas julgo desnecessário.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Malvados



Cinismo, inteligência, niilismo, besteira e humor negro, é essa formula que o carioca André Dahmer usa para compor suas tirinhas. Sem intenção alguma de sucesso, Dahmer começou despretensiosamente a publicar em seu site (www.malvados.com.br) suas odiosas tirinhas dos Malvados.

Usando de um sarcasmo inteligente e por vezes até pueril, o recatado Dahmaer, pelo menos é assim que parece em suas entrevistas, diz que iniciou sem muito conhecimento ou referencias nos quadrinhos. “Li muito pouco quadrinho e conhecia poucos autores até 2002, 2003. Eu era ilustrador de profissão, mas desenvolvi grande atração pelo formato clássico de três quadrinhos, a chamada tirinha. Afinal, a tira é o hai-kai da poesia: é concisa, curta, difícil de fazer”, disse ele em uma entrevista ao portal G1.

Em Malvados, o quadrinhista utiliza situações, normalmente macabras ou de vies mórbido, para fazer rir ou divertir o público. Malvados foi somente o início, já que ele criou vários personagens posteriormente.



Devo dizer que não chega a uma Angeli ou Laerte, mas adorei muitas de suas tiras.

Estava procurando outra coisa quando achei o site dos Malvados. Essa descoberta me fez conhecer uma coisa inusitada que vem ganhando força na Internet, os WebComics. Quadrinhos feitos para serem divulgados na net. A bem da verdade já sabia desse filão desde quando Marcos Ayron, irmão de Cyro e autor de Syd Punk(http://supernilce.blogspot.com/) , passou dois dias em minha casa. Por ele fiquei conhecendo outros sites que se propoem a publicar não só tirinhas mas histórias em quadrinhos no tradicional formato americano.




Tenho uma paixão especial pelas tirinhas de jornal. Adoro Mafalda, Calvin e Haroldo, Niquel Náusea, Piratas do Tietê, Snoop, Malvados(Novato na lista) e tantos outros que fazem tanto com tão pouco(perdoe o clichê). Dá até vontade de fazer as tirinhas do Cabeça de Cuia; Sargento Calor; e ainda Teresina, o inferno é aqui. Infelizmente não nasci com essa dádiva. Ficarei apenas na leitura.





Para conhecer o trabalho de Andre Dahmer, acesse www.malvados.com.br

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

All That You Can't Leave Behind

Texto meio nada a ver, meio perdido. Mas o fato é que ele foi escrito.....então.....


Mais um ano, mais um aniversário, mais presentes, mais algumas expectativas, sonhos, capítulos findados e outros começados, assuntos esclarecidos tantos iniciados.....

No momento em que o relógio deixar de marcar 23:59 e passa para 0:00h, credita-se um ano a mais na sua idade. Uma a menos de vida pela frente. Nossa trajetória é rápida e seguir em frente é a tônica constante, mas minha pergunta é: o que não podemos deixar para trás? Parece-me que selecionar é a parte difícil dessa contagem regressiva.

Penso que viver é chave, já que são precisos muitos anos para se tornar uma pessoa e não apenas nove meses. O tempo passa e muita coisa fica para trás e hoje me orgulho de não mais ser um cara saudoso.

Como seria se assim ainda fosse? Como viver o amanhã querendo que fosse o ontem? Não imagino e nem quero.

Desejo as praias que ainda não vi, as pessoas que não conheci, assim como as dores e prazer que virão. Quero isso sem abrir mão do mar que avistei quando criança, sem esquecer da turma do desmantelo, do meu amigo cearense e muito menos de minha namorada. Isso eu não posso deixar para trás. Afinal eu sou eles.

Da forma como se desenham as coisas parece que essas ruas de calçamento, esse clima infernal e meus parentes vão deixar de me ver em breve. Pelo menos assim espero, afinal quero comemorar minha posse.

Super estranho esse mundo em que deixamos as pessoas que amamos, nossa família e amigos, tudo isso, atrás de dinheiro. Deixamos nossa casa por isso......acho estranho. Mas infelizmente quem deseja ser adulto tem que fazer isso, pois só é digno desse conceito quem paga suas contas. Assim disse meu irmão e concordo com ele. As vezes tudo se resume a dinheiro e essa é uma triste, mas factual, constatação.

Vinte e cinco anos........ e o que eu fiz? Já plantei uma árvore, comecei a escrever dois livros e não tenho nenhum filho. De qualquer forma, acho que estou no caminho.

Rubem Alves disse: “A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário.Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte”.

Segundo ele meus 24 anos morreram.
Mas ainda bem que depois dele ainda tem o 25.....

Viva meu 1º quarto der século. Morte ontem, alvorecer hoje.


OBS.: Obrigado pela lembrança de todos que me desejaram feliz aniversário. Sou muito grato.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Nietzsche

As Minhas Rosas

Sim! a minha ventura quer dar felicidade;
Não é isso que deseja toda a ventura?

Poema

Na Casa Defronte

Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
Que felicidade há sempre!

Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
São felizes, porque não sou eu.

As crianças, que brincam às sacadas altas,
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.

As vozes, que sobem do interior do doméstico,
Cantam sempre, sem dúvida.
Sim, devem cantar.

Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza.

Que grande felicidade não ser eu!

Mas os outros não sentirão assim também?
Quais outros? Não há outros.
O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
Ou, quando se abre,
É para as crianças brincarem na varanda de grades,
Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Os outros nunca sentem.

Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.

Nada! Não sei...
Um nada que dói...



Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa