sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Mais um



Em meio a loucura de uma presídio tomado por 500 detentos amotinados, essa foto foi tirado pelo fotógrafo Clóvis MIranda. A imagem ganhou o Prêmio Esso de Fotografia, o título dado pelo autor é MARTÍRIO NO PRESÍDIO. A foto foi publicado no jornal A CRÍTICA (Manaus).

Clóvis mostrou olhares únicos da rebelião no Instituto Penal Antônio Trindade, em Manaus, no Amazonas. "A fotografia mostra um dos detentos no momento em que era removido, depois de ter sido torturado e mutilado. Além de chocante, a foto lembra a imagem de Jesus Cristo sendo retirado da cruz". Diz a o texto da premiação.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Minhas obras primas. Parte 1

Com esse post faço mais uma lista, quem gosta de música faz lista, não das minhas músicas preferidas, já que das próprias bandas listarei, no decorrer dos meses, existe um grande número de outras canções que gosto mais do que as que ali estão, mas sim das melhores obras-primas.

Na verdade existem muitas outras músicas que considero obras-primas - aquele tipo de canção que impressiona, meche com o tempo e marca época(pelo menos pra mim) - mas em meu curto conhecimento e lembrança essas são as maiores.

Tais obras serão expostas sem ordem de importância ou preferência. Vem como vem apenas por conta da minha inspiração, que nem sempre aparece.

Bittersweet Shymphony – The Verve

Seguindo a trilha da própria banda, conhecida pelo seu consumo absurdo de drogas, a história dessa musica é uma loucura. Para quem não sabe, aquela magnífica sinfonia que está presente em toda a canção foi tirada de um sample de The Last Time do Rolling Stones, que inclusive processou o Verve por causa disso. Quando se abre o encarte do cd The Urban Hymns(SIC), os créditos da música são de Jagger/Richards. Uma injustiça, na minha opinião. Mas o fato é que desconheço pessoa que fique indiferente a esta obra-prima inglesa, que diga que é feia.

Quando a sinfonia começa devagarzinho, baixinho, e vem crescendo...... dá para se imaginar andando em alguma grande cidade, todo agasalhado olhando para as pessoas e sentido a vida de cada uma delas. Dá para se imaginar vagando por ai, pensando, e no meio da historia se perdendo e achando, chorando e sorrindo. Dá pra assistir a vida passar por cada metro de calçada trilhado, por cada olhar perdido em meio ao sem fim do mar. A cada sorriso e gentileza sincera que um estranho nos cede. Em seu primeiro verso Richard Ashcrof dá o tom “Pois esta é uma doce canção da amargura,esta é a vida”. Alguem duvida?

Bittersweet Shymphony não me parece uma música de encontro ou de amor, mas sim de vida. Eu realmente amo essa canção :)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Palavras ditas sem saber

Idiosygkrasía

Algumas vezes,
a fala engasga,
o tempo passa,passa,passa,
mas não falha.
.
.
.
Se Espalha.


Texto de autoria de minha querida amiga Joseane Araújo.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Reminiscências de Fortaleza parte 2

(...)

Em Fortaleza não pude ver o mar, mas pude sentir aquele vento maravilhoso. Não sei, mas no meio da noite acordei e acho que escutei aquele mesmo som do mar. Pensando friamente é impossível disso ter ocorrido. A casa de minha tia fica bem longe da praia e são incontáveis as avenidas e bairros que dividem a pequena morada daquela visão de sem fim. O fato é que escutei.

Pela manhã acordei sem o mesmo entusiasmo de infância, mas ainda sim disposto. Afastei o banco, ajeitei os retrovisores, passei a primeira e peguei o rumo do Piauí.

Em Fortaleza deixei bons amigos, o mar, velhinhas simpáticas e ainda grande parte da vida de minha tia....

As ruas passavam e minha prima chorava dizendo que cada esquina daquela lembrava a irmã de sua mãe. Não chorei, mas a sensação vazia era incontida.

Acabou, era isso.

Não há como não admirar aquela pequena. Tão miúda, mas tão forte e decidida. Carregou durante longíssimos seis meses e meio o fardo de tomar de conta de uma enferma gravíssima e ainda de toda a vida dela. Deixou a mãe, a filha e ainda a possibilidade de bons salários para tentar puxar a tia da beira do precipício. Infelizmente não foi dado esse poder a ela, mas a doce Mônica a cativou como pôde. Tentou de todas a formas erigir uma ponte entre aquela consciência moribunda (ou não) e seu corpo já tão debilitado.

Imagino poucas pessoas como elas e não sou uma delas. Não sei, talvez até sim. Mas será que com aquele sorriso? Acho que mesmo do jeito que sou, metade do mundo desabaria sobre mim e a outra metade estava em sério risco.

Não há como saber. Não quero saber.

Em meio as coisas que não eram nossas, encontrou-se cartas, idéias, contas, projetos de vida em letras como essas que agora escrevo. Eu não sabia que minha tia escrevia. “Toa estranho conhecermos ela melhor somente depois de morta”, disse minha companheira de estrada. Estranho mesmo.

Em meio aos excessos sanguíneos dos Santiago fica muita coisa boa. Clareia a importância do amor, dos parentes, da comunhão. Ficam ainda outras coisas que não sei como dizer. Afinal, é difícil falar do que você faz parte.

Mas das coisas que sei, posso dizer que minha admiração por aquela pequena será eterna.

Mais um livro terminado e uma história findada. Só espero que não esquecida.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Pérolas do cotidiano brasileiro.

Todas as frases abaixo talvez sejam verídicas.

“Todo cavalo morto é um bicho sem vida”.
Ariano Suassuna, escritor.

“Só sei que nada sei”.
Regina Sousa, secretária de administração do estado.

“O país mais populoso do mundo não é China e sim o Iraque. Lá todo dia morrem mais de 100 e a população não se acaba”.
José Neto, operador de áudio da Rádio Antares.

“Diabo de justiça cara é essa?”
Senador Mão Santa respondendo sobre sua possível compra de sentença por 10 milhões de reais.

“Em redor do buraco tudo é beira”.
Ariano Suassuna, escritor

“Quem for pôde que se quebre”.
Pedro Santiago, jornalista.

“De longe todo mundo é normal, o diabo é quando a gente chega perto”.
Robstein, palhaço e operador da TIM.

“Mãe tenho um negócio pra lhe contar. Eu sou”.
São Paulino saindo do armário depois da conquista do hexa campeonato brasileiro.

“A crise ainda precisa atravessar o atlântico para chegar ao Brasil”
Luís Inácio Lula da Silva, presidente brasileiro redesenhando a geografia mundial.

“Meu filho, meu cu é caro e o babado é certo”
Traveco respondendo a pechincha de um cliente interessado em um programa.

“Eu odeio o DNIT. Eu quero que ele se f....”
Seboso Vieria, Caminhoneiro, desabafando enquanto o mecânico consertava a roda do veículo quebrada em buraco na BR 316.

“Bateu? Aonde? Quem? Morreu?......ah sei, só caiu mesmo né....”
Hérlon Moraes, jornalista.

“Pedro, filhodaputavagabundoescrotocretino. Te amo cara”
Gustavo Melo em momento de ternura.

“Bourdieu não é nada comparado a Baquitim e nem esse é alguém como foucault que é um pouco inferior ao Wittgenstein que bebeu de Marx, Platão e Kant. Na verdade na verdade, eu gosto mesmo é da Claudete”.
Santiago Junior, Doutorando em História.

“Cara..........................(silêncio)....................sei não. Mas acho que a liberdade é bem assim para ser vivida sem rédeas. Sabe? Ei minino num meche nas minhas coisa não!”
Catarina Santiago, jornalista e escritora.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Cai a noite, cai a chuva. Chega o Natal

As luzes passam devagar pelo vidro embaçado. Uma, duas, três, quatro, várias pessoas andam pela avenida. Umas acompanhadas, outras sozinhas e algumas desamparadas. O rapaz de blusa preta e jeans azul toma seu sorvete despreocupadamente; a moça de cabelo preto e pintinha na bochecha olha para a porta como que esperando alguém, mas ninguém chega.

A garçonete sorri amarelo para o gracejo insolente que recebe. São tantas as vezes que nem agradece o obrigado ganho. Assim leva, assim vive.

Dessa cidade plana, cheia de quadras, esquinas, bares, cerveja, hipocrisia e cordialidade; se vê a construção das moradias trepadas em edificações verticais. Falar dessas pessoas por que? Elas só têm dinheiro, algum problema?

A surpresa é matéria escassa nesse lugar e nem precisa de crise para essa mercadoria sumir.

“Olá, tudo bom”, pergunta a moça vestida com uma linda saia.
Sem jeito e receoso o sujeito responde – Bem......bem sim. E vc?.

“Eu estou bem também. Não está linda a Frei Serafim? Adoro essa época do ano com seus enfeites e esperanças de coisas boas”.

Olhando para a avenida e ainda pouco convencido daquele diálogo responde. “Os enfeites são bonitos e avenida está linda....... mas não vejo essa época com esperança. Vejo isso como determinismo. ‘Olhe, vc tem que ser positivo um novo ano vem aí’. Não consigo acreditar nisso. Esse tempo é tão bom quanto qualquer outro para ter esperanças, para tentar melhorar e viver bem. Tento impor que minha época de ser feliz é hoje e amanhã também”. Disse o até então lacônico sujeito.

A despeito da intensa argumentação a moça maneia a cabeça, olha para ele e sorri. “Concordo com vc. Mas acho que não custa nada a ninguém ter um pouco mais de fé agora. Penso que deveríamos era aproveitar esse espírito e fazer com que algo mude, com que alguma coisa tenha significado. Acho que é bobice perder chances como essa. Não é porque todo mundo acha bonito o mar, que eu vou deixar de achar também”.

Enquanto escutava a moça que estava sentada no banco, o rapaz dava voltas em frente ao assento. Andando de um lado pra outro com as mães nos bolsos em um misto de contemplação e atenção.

Ao fim da resposta ele nada disse, apenas sentou a lado dela com os cotovelos apoiados nos joelhos. Passaram-se alguns minutos até outra palavra fosse dada entre os atores.

“Talvez vc esteja certa. Acho que é uma forma de não perder a esperança, de fazer sua parte”. Soltou olhando para ela e para o corredor de árvores.

A moça nada disse. Não demonstrou alegria nem desapontamento, parecia que estava unicamente pensando. “Ainda não vi se a decoração chegou ao fim da avenida. Vamos andar até lá e dar uma olhada?”, perguntou. “Vamos sim”, respondeu nosso sujeito.

Então na quarta-feira de chuvas eles andaram pela calçada até o fim da avenida sem grandes temas a conversar, sem pretensões a implementar. Apenas conversaram.

Feliz Natal a todos

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O tombo do gigante

“Do porteiro ao presidente, os vascaínos tiveram um domingo para esquecer. A queda à Série B do Brasileiro levou os cruzmaltinos ao fundo do poço, abastecido por lágrimas que começaram a correr nos rostos dos torcedores durante a derrota por 2 a 0 para o Vitória. O resultado selou o capítulo mais triste da história do clube. Muito choro, protestos e a promessa de não abandonar o time marcaram o rebaixamento”.

Em 110 anos de existência, uma história coberta glórias, títulos e ainda a 4ª maior torcida do Brasil, o Clube de Regatas Vasco da Gama conheceu o inverso da vitória. Ficou íntimo da derrota plena, já que virou freguês do Flamengo e time da segunda divisão. O segundo colocado na lista de pontos do Campeonato Brasileiro, 4 vezes campeão nacional e de uma séria de outros títulos que nem esse post inteiro seria capaz de numerar, jogará com o Gama, ABC de Natal, CRB de Alagoas, Brangatino e outros times que juntos não tem um terço da força, títulos e torcida que Vasco tem.

“A tarde e a noite em São Januário foram completamente distintas. O estádio foi palco de uma bonita festa e demonstração de apoio até boa parte do duelo com os baianos. No entanto, logo o cenário se transformou. A consumação da queda levou torcedores a brigarem e sofrerem juntos.

“Nas arquibancadas, grandalhões, senhores, mulheres e crianças choravam. E choravam muito. Buscavam explicações e pareciam não acreditar no que presenciavam. No gramado de São Januário, logo após o apito, jornalistas fãs do Vasco sofriam da mesma maneira. Colegas de profissão se abraçavam e até reforçavam laços de amizade. Todos prometiam não recuar o ombro amigo.”

Interessante que com o tombo de meu time é que realmente percebo o quanto ele significa para mim. Comprarei até uma camisa, caríssima, para ajudá-lo e também porque é realmente a mais bela das camisas de clubes do Brasil. Lembrei de todas as discussões futebolísticas que ganhei frente a sempre maioria flamenguista (Modéstia a parte, minha capacidade argumentativa sempre foi maior do que a irremediável maioria de meus amigos). Lembrei de quando fiquei de recuperação pela primeira vez na minha vida e minha mãe, irritada e desapontada, me ofereceu como prêmio pela passagem de ano uma camisa oficial de meu time.

“Incrédulos, muitos vascaínos não quiseram deixar o estádio. Ficaram ali, sentados, até o anoitecer. Tentavam consolar uns aos outros, mas sem ir embora de São Januário. Alguns fizeram questão de demonstrar apoio. Apesar do sentimento de tristeza, uma torcedora exibia faixa que pode exemplificar o que ocorrerá com os vascaínos em 2009.

‘Na alegria e na dor, o sentimento não pára’, mostrava o pedaço de papel erguido pela vascaína. Mais de duas horas depois do final da partida, um porteiro do clube se derramava em lágrimas. Tomando uma cerveja e comendo um sanduíche, explicou. "O que machuca é saber que meus três filhos estão desesperados, chorando muito. O que é isso, cara, não acredito", desabafou Leonardo Souza.”

A descenso não poderia vir em hora pior, justamente quando o time havia se livrado do vampiro inescrupuloso que enriqueceu as custas do maior patrocínio que o Brasil já viu, quando o Bank of Boston foi investidor do Vasco. Eurico Miranda se aproveita da desgraça alheia como o urubu vive da morte do outro. Felizmente parece que a torcida está criando a consciência do que ele verdadeiramente é.

“O presidente Roberto Dinamite também se viu no meio de discussões. E das mais acaloradas. Desde o fim do primeiro tempo, o mandatário ouviu algumas críticas de torcedores próximos da tribuna. Em seguida, viu boa parte do estádio isentá-lo de culpa. Muitos cantaram contra o ex-presidente Eurico Miranda: "Ohhh, a culpa é do Eurico". Houve até bate-bocas mais quentes entre fãs dos dois dirigentes. Por pouco não terminaram em agressão física.”

A mim e todo os outros vascaínos, cabe agora não abandonar o time, afinal não devemos ser amigos arroz de festa. Aquele que na primeira adversidade abandona a Caravela. Como disse o repórter Alexandre Sinato, a torcida “nada (pode fazer) contra a presença da equipe na Série B de 2009, mas pode desempenhar papel importante para reconduzir o time do coração à elite”. Finaliza o jornalista: “Palco de conquistas. São Januário aguarda um motivo para comemorar”.

Ano estranho esse de 2008.

Nosso 2009 será longo, mas feliz ao fim. Tenho quase certeza.

Saio da facilidade de nada esperar e coloco minhas esperanças em Roberto Dinamite, meu novo presidente. Aguardando ansiosamente a volta do gigante ao topo da colina.

Um vascaíno de coração

Pedro Santiago.

Obs.: Matéria do Uol, publicada originalmente em: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/12/08/ult59u180458.jhtm

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um dia de saudoso

Relutante em ser relutante, me levanto em uma mistura de alegria e vontade de ter meu sonho devolvido. Em uma água de rachar o crânio tomava um banho avechado. Minha mala já estava pronta e logo começava a ajudar com as malas. Depois de poucos minutos, já estava plenamente acordado e empolgado com minha viagem. Catarina e Junior, como sempre, davam mais trabalho para acordar, levantar e comer algo. Meus pais, como sempre também, estavam já prontos para o que desse e viesse.

O Parque Shalon era um bairro afastado do centro e próximo a praia do Caolho em São Luís. Tinha a mercearia da avó do Dário, o Mercantil Santa Teresa, o Comercial do Fausto (que viria logo a fechar) assim como a locadora do Lenine, o Frango do Cajueiro e outras coisas como o açude perto da casa do Gordão e o campinho na frente da casa do Bruno Bode.

A proximidade com a praia era clara. Do andar inacabado em minha ksa era possível ver o mar. Do apartamento do Diogo e do George, que era frente a minha residência, dava para ver até os bares e areia branca, tão gostosa como só lá tem.

Acho que tinha uns 8 anos, quando me dei conta pela primeira vez do evento. Depois de colocar a ultima mala, pensei ter escutado um som. Uma coisa meio parecida com o vento e com o barulho de água derramada. Fui a porta e fiquei procurando o que era, olhei para um lado e para outro e nada. Papai saia a porta quando me perguntou o que estava fazendo. “Que zuada é essa papai?”, perguntei. Ele sorriu e disse: “Esse é o som do mar”. Pegou no meu ombro e também ficou olhando para o céu.

Mais de uma década depois, em meio ao calor enlouquecedor de Teresina e do alto de seu despeito, meu pai diz que a única coisa que sente falta em São Luis é do som do mar ecoando pela madrugada. Parece até que a cidade tem culpa nos nossos erros.

O mar sempre faz falta

Anjo torto

Poema do aviso final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando meu povo:
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança
É preciso que alguma coisa atraia
a vida ou a morte:
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
e abrirá caminho.
É preciso que haja algum respeito
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se firmará a machadadas.

Torquato Neto