De um lado os fãs que choraram e se emocionaram com o tributo a Legião Urbana com Wagner Moura no vocal. Do outro, os críticos que detestaram a ideia de um ator que não sabe cantar, fazendo um show tributo junto com dois terços do grupo original. “Se isso não é constrangedor, não sei o que é”, rasgou, como de costume, o bom e velho André Foastieri.
Fiquei dividido com a questão. Seria válida a apresentação pelos 30 anos da banda ou a empreitada não passa de mero orgulho dos remanescentes querendo reviver, por duas noites, os momentos áureos de suas vidas? Indaguei-me inutilmente.
O certo é que houve uma gritaria nas redes sociais. A maioria se emocionando com o reviver canhestro da maior banda de rock brasileira e até gostando de Wagner Moura, talvez o cara mais cool do Brasil, no papel de Renato Russo.
Fugindo um pouco se foi legal ou não essa união, o que fica claro é a carência de um público avido por novidades pujantes, que o faça esquecer um pouco esse passado, hoje lustrado e decantado, e o deixe viver sua própria onda ao invés de ficar babando pelo arremedo do que um dia foi a Legião Urbana.
Eu pensei que isso acontecesse apenas aqui em Teresina, mas percebe-se que o país inteiro está nessa. Ficamos de olhos fechados cantando as canções de bandas mortas como Legião e Los Hermanos enquanto não aparece ninguém para reivindicar nossos corações.
“Kenneth Tynan, uma vez esculhambou um filme de Michelangelo Antonioni assim: ‘Nove décimos do trabalho do crítico é demolir o ruim para abrir caminho para o bom. Antonioni está bloqueando a rua’”. Texto de Forastieri citando Tynan.
Indiferente à crítica, Wagner cantou (missão dada é missão cumprida, diria o Capitão Nascimento) e desafinou em todas as música, mas foi aplaudido pelas 7 mil pessoas que estavam no Espaço das Américas em São Paulo. Muitos disseram que seu carisma compensou a voz, ou a falta dela. Outros como Tonhão Borracha e André Barcinski, disseram que viram cinco minutos do show e não conseguiram mais dormir.
Quem tem razão? Ninguém! Ou os dois! Só depende de qual lado você esteja. Fã tem que amar mesmo, cantar a plenos pulmões mesmo, se emocionar quando o frontman interpreta a canção da sua vida e pedir bis depois do boa noite. Já a crítica tem que criticar, tem que te mostrar um lado pessoal que poucos veriam; tem que interpretar com afinco, coragem e sempre fugir do muro. Tem que dar a cara para bater, afinal crítico indeciso não serve!
Tenho certeza que me emocionaria no show tributo. Cantaria até ficar rouco, como sempre faço, e iria com um sorriso enorme para casa. Faria isso sim, mas desbloqueando a rua na volta e desejando que deixassem Renato e a Legião em paz.
Abra os olhos – O cemitério do esplendor
Há 3 semanas
0 Comments:
Post a Comment