domingo, 6 de dezembro de 2009

Não existem duas honestidades ou o jornalismo e a ética do marceneiro

"Time que entrega jogo não pode reclamar de mensalão.

Torcedor que pede para os jogadores perderem não pode reclamar do “panetone de ouro”.

Cartola que combina resultado ou incentiva qualquer armação fora das quatro linhas não pode se queixar dos escândalos de superfaturamentos e empreguismo no dia-a-dia da República.

Não existem duas morais, não existem duas éticas, não existem duas honestidades. Não existe exceção para a vergonha na cara.

Flamengo, Inter, São Paulo e Palmeiras têm condições de serem campeões na bola, no gramado, com a honra e força que construiram as suas histórias.

Cada povo tem o país que merece. E o país que queremos e merecemos deve ser reafirmado em TODAS as ações. Do respeito ao sinal de trânsito até o combate intransigente a toda forma de picaretagem".

Esse texto não é de minha autoria, mas representa com exatidão o meu pensamento. O autor é o jornalista Décio Lopes, editor e apresentador do Expresso da Bola, Blog e programa do SportTV. Um sujeito com um texto direto, limpo, por vezes seco, mas com boas ideas.

Suas palavras tem link direto com as do mestre Cláudio Abramo, jornalista astuto, perspicaz ao extremo. Um cidadão sem meias palavras com sua vida e seu trabalho.

Abramo escreveu:

Sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista — não tenho duas. Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão. O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista.

Seu argumento é universal e não fica restrito apenas à jornalistas e cidadãos. Quando se trata de nós pessoas não existe aquela resposta pré-concebida: "eu, enquanto cidadão"..... e quando se deixa de ser um cidadão? Em qual momento? Não cabe essa de "enquanto". Essa temporalidade não existe, é uma condição intríseca, indissociável e carrega todos os direitos e deveres de cada um. Condições que não abrimos mão nem quando dormimos.

"Pedro, mas esporte é apenas intretenimento. E outra coisa, isso não acontece apenas no Brasil!". Já escutei isso muitas vezes como desculpa para para algo que se julga institucionalizado. No caso a picaretagem. Como se um erro justificasse o outro.

Agradeço profudamente ao Cláudio por me fazer acreditar que o jornalismo pode exister com responsabilidade. Abraço também Décio, que aprendeu as lições do mestre Abramo e como profeta às prega para quem quiser ouvir.

Eu sei o país e o sujeito que eu quero para mim e ele não é parecido com isso que está aí.

Ps.: Blog Expresso da Bola: http://colunas.sportv.globo.com/expressodabola/2009/12/05/nao-existem-duas-honestidades/

Ps2.: Texto de Cláudio Abramo extraido do livro a Regra do Jogo, Companhia das Letras, 1988.

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