sábado, 27 de março de 2010

Desalento

O circo estava armado e então o julgamento do casal Nardoni começou. Antes mesmo do start, tudo já estava definido. Todos já tinham escolhido seus culpados. A opinião pública, sedenta por alguma justiça, acompanhava a tudo como se uma novela fosse.

Agora entendo melhor de novelas. Compreendi o apelo forte que ela emana. Parece-me que no Brasil as pessoas tendem a novelizar tudo. Uma coisa doida onde a novela vira realidade e a realidade novela, como no caso Nardoni.

Não sei da culpa e nem da inocência deles. Disso não entendo.

E se não foi eles, quem foi? Parece-me que esse foi o diferencial. O direito penal ensina: só existe crime com indícios de materialidade e autoria. E os únicos suspeitos são os dois condenados.

Blog, montagens, narração em tempo real, um gama enorme de "especialistas" dando seus veredcticos .... Um show midiático.

Mesmo depois do fim do circo (julgamento), a dúvida permanece. Afinal, como pode um pai matar um filho? Difícil de acreditar. Só não tão difícil quanto essa minha inocência em um caso como esse. Eles acontecem todo dia e em todo o Brasil.

Semana passada, uma moça foi achada em um matagal de uma cidade do Piauí, jazia brutalmente espancada, cheia de perfurações no corpo e com uma faca cravada no peito. Alguém se importou com ela?

Eu mesmo, que sou jornalista e bem informado, nem o nome dela sei. Lembro da Tallyne Teles, do Tim Lopes, do prefeito de Santo André. Lembro também do João Hélio, pobre garoto que foi despedaçado durante um trajeto de sete quilômetros pelo qual foi arrastado preso do lado de fora de carro de sua mãe, roubado pelos autores tragédia.

Não dá. Não dá para ver tanta coisa e não pensar que algo está errado. Um garoto que é esfacelado, outra que é morta com um tiro na cabeça, traficantes que ateiam fogo em pneus com pessoas dentro, pais matando filhos, crianças que aos 17 anos já praticaram homicídios suficientes para deixá-los na cadeia para sempre.... A lista é interminável.

Esse é problema! Tudo ficou comum, banal. É como Batman disse em Cavaleiros das Trevas: ficou muito fácil matar uma pessoa.

A fácil matar, noticiar, brigar e esquecer. É assim que as coisas funcionam hoje.

O desserviço proporcionado pela mídia pisca em vermelho forte, como o sangue que estampa as capas dos jornais todo dia.

Mas o que vai ela fazer? Falar apenas de flores e jardinagem? Não dá.... Nem elam nem eu e nem ninguém sabe o que fazer com esse axioma.

Fazemos isso enquanto marchamos orgulhosamente para um futuro cada vez menos humano, cada vez menos esperançoso. Onde parece que a vida existirá mais em novelas do que realidade.


Bicho estranho, esse ser humano, que além de acabar com seu planeta, espolia a si mesmo com a maior desfaçatez e sem o menor pudor.

Morre a 16ª criança que esperava vaga em UTI no Maranhão

A filha de Gleiciene Silva brigou e recebeu uma liminar da Justiça expedida às 20h de anteontem para ter direito a uma vaga na UTI. O bebê morreu uma hora depois. Nascida de forma prematura às 13h, veio às pressas para Imperatriz no colo da avó. A cidade tem 44 leitos públicos de UTI e 17 particulares. O ideal seriam 120, segundo o Ministério da Saúde.

A criança, que nem tempo de ganhar nome teve, se tornou a 16ª vítima do ano que por conta do mesmo problema.

Sem nome, se tornou apenas um número.

Poderia ser mais trágico?

quinta-feira, 25 de março de 2010

Humor negro, mas verdadeiro.


Assunto de hoje entre os jornalistas teresinenses: o blog www.porra180graus.tumblr.com/.

Algum gaiato percebeu o óbvio e postou algumas das loucuras que o 180graus.

Hilário!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Lembranças

Rio!

-Ver o Cristo Redentor do avião;

-A vista do Pão de açucar;

-Coldplay tocando Shiver;

-As palmeiras do Largo do Machado em meio a chuva;

-Coldplay tocando Lost;

-A comida do OutBack;

-Coldplay tocando The Hardest Part;

-Visita ao Maracanã;

-Sorrisos no quarto do hotel;

-Borboletas de papel caindo do céu...


Arrependimentos:
-Não ter ido a São Januário(imperdoável);

-Ter andando mais!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Philippe Coutinho


Há temores de precipitação. Há temores de valorização exagerada e “fanatismo religioso” decorrentes da carência de ídolos e do atual estado das coisas em São Januário. Há temores de se apostar fichas em um jogador tão menino, tão cedo catapultado à condição de estrela, na companhia. Há temores de que comparações inevitáveis com outros jogadores extemporâneos (ou mesmo contemporâneos) possam relativizar as boas impressões que se tem a seu respeito. Há temores de que tudo não passe de invenção capitalista, vendagem marqueteira, subprodução pré-criada em laboratório fictício de cartola vendedor de jogador.

Venho afugentar todos os temores, espairecer todas as névoas de dúvida, dirimir todas as questões referentes ao assunto e manifestar minha opinião: Philippe Coutinho é, hoje, o melhor do Vasco.

Digo isso e explico o porquê.

O que faz, a meu ver, Philippe Coutinho ser hoje o melhor do Vasco, é a sua dedicação sóbria e serena, gradual e progressiva, corajosa e devotada, que de distingue da forma omissa e melancólica com que o Vasco é representado no atual momento.

Não é por não acertar a pontaria, como se requer que ele acerte, que ele vai deixar de ser o jogador com maior investidura da cruz-de-malta no elenco atual. Não é por não ter ímpeto de gol de um Roberto Dinamite e de não ser um goleador do time como Romário que ele não haveria de alcançar esse posto.

O amadurecimento com que Philippe Coutinho assumiu as jogadas, a criação, a ofensividade e o chamado para conduzir a cruz-de-malta nos últimos jogos tem sido, no mínimo, a última esperança de respeito e abnegação ao panteão vascaíno neste campeonato.

Vejam bem: estou falando de respeito, abnegação, envergadura moral e passional. Philippe Coutinho - o menino de dribles, elásticos, lençóis e jogadas individuais ariscas e ousadas - há de ser – pelos acertos, pelos erros e pelas inúmeras tentativas – o último jorro de sangue vermelho e vivo desse sistema vascular obstruído e necrosado que se tornou o time do Vasco.

Enquanto os mamutes do time esfacelam as pernas em contusões, desaparecem nos gramados ou se omitem nos momentos decisivos da partida, o menino “ladrão de raios” corre, tenta, encara a marcação dura dos adversários e a cobrança exigente da torcida com porte de homem adulto, com coragem de atleta profissional, com amor à camisa do Vasco.

É preciso que o torcedor aprenda a decodificar os símbolos de uma partida de futebol. A cena do domingo passado, com Dodô se sobrepondo a Philippe na cobrança do pênalti e tirando a autoridade do treinador diante de uma audiência perplexa, foi uma cena decisiva. Uma cobrança de pênalti marcada em pleno Maracanã, num jogo contra o maior rival, justamente após um pênalti já ter sido desperdiçado. No elenco, dois únicos jogadores assumem a decisão. De um lado, o jogador mais experiente em campo, que já tinha perdido a primeira cobrança displicentemente. Do outro, o menino-prodígio, com 17 anos – exatamente a metade da idade do outro. A forma displicente e ridícula com que o “experiente” desperdiçou a segunda cobrança evidenciou a distância gritante entre a vaidade e a valentia, a presunção e a abnegação, a arrogância e o senso de responsabilidade. O castigo da perda do pênalti foi a senha para o torcedor vascaíno identificar que os medalhões nada são diante dos meninos aguerridos que, debaixo da cruz-de-malta, possuem um coração vascaíno pulsando de verdade.

Que me perdoe o Dodô se estou emitindo juízo criterioso a seu respeito, mas ele, para mim, encerrou, naquele domingo, a sua tentativa de história dentro do Vasco. Menos pelos pênaltis perdidos. Ao contrário: se os fizesse, não teria ofuscado as jogadas arriscadas e o senso de voluntariedade com que um menino de 17 anos se entregou nesta e em todas as demais partidas onde, sejam quais forem os motivos, Dodô desapareceu e se omitiu, furando chutes a gol que pareciam propositais de tão bisonhos. Dodô e Mancini não têm a alma que o Vasco requer para um clube que está renascendo. Quando um desautoriza o outro, ambos se equivalem. Os erros de cada um, jogo após jogo, só demonstram que a mediocridade nem sempre nasce da má intenção, mas também pode ressurgir de uma absoluta desconexão entre um profissional e uma camisa. Acho que a camisa do Vasco, sinceramente, não cabe neles.

Em contrapartida, Philippe joga como se não estivesse vendido, como se os euros não acenassem aos seus olhos de menino o sonho dourado de todo jogador de futebol desta plaga de terceiro mundo onde todo mundo idealiza sucesso e reconhecimento. Ali, dentro do gramado, vestido com a camisa do Vasco, o pequeno vascaíno Philippe Coutinho empresta seu som e sua fúria shakesperianos para incendiar os gramados em favor do clube em que acredita, em favor da torcida que – mesmo impaciente – sabe discernir um craque de uma falsa promessa.

"Ser ou não ser: Eis a Questão!".

Philippe Coutinho não se intimida: ele é!

Nem mesmo Carlos Alberto, jogador referência desse novo Vasco, consegue se manter em campo, lesionado e combalido pela perseguição desumana que os maus sopradores de apito autorizam jogo após jogo. Mas Philippe Coutinho está lá, enchendo as páginas dos jornais com as únicas e incontestáveis atuações dignas da camisa que veste, envergando a camisa com o amor e o respeito que pouco se vê numa equipe mal escalada, mal decidida e mal resolvida. Não fosse ele, com a força de seu talento e a convicção de sua vascainidade, não teríamos espaço na mídia, não teríamos destaque. Ele briga sozinho pelo Vasco e pelo nosso espaço em meio aos silenciadores do nosso clube. Grita - e grita tão alto - que obriga outras vozes a ressoarem seu grito e o grito do Vasco.

Há um estranho silêncio em São Januário. Os jogos são ruins, as atuações são pífias, os resultados são parcos. Ninguém fala nada. Sobram aqueles velhos discursos de araque sobre prestigiar técnico e comparar elenco deste ano com o do ano passado, treinador deste ano com o do ano passado etc. A realidade é mais simples do que o devaneio. Quem não alcança um alvo não é bom de atirar flecha. Sem um bom arqueiro, ninguém acerta um alvo.

Enquanto as discussões prosseguem, o departamento médico segue sem jamais recuperar seus feridos de guerra, os tribunais caçam e punem irascivelmente os atletas vascaínos, o treinador nunca sabe a escalação ou o esquema do próximo jogo... todos parecem perdidos.

Menos Philippe Coutinho.

Pergunto eu: é alguma incoerência eu sentir um orgulho vascaíno dentro do peito ao abrir, na manhã de hoje, todos os jornais e ler, em meio à morbidez do time atual, uma série de matérias enaltecendo o menino prodígio do Vasco?

Não teríamos – eu e todos os demais vascaínos que compartilham dessa opinião – o direito de se emocionar, pelo menos, com a atitude e o futebol desse menino, sendo ele o último lampejo de vascainismo verdadeiro nesse grupo totalmente fora de sintonia com a história do Vasco?

Disse, digo isso e repito quantas vezes puder. Não há nada melhor, hoje, do que ver Philippe Coutinho jogando com a camisa do Vasco.

Todo o resto é quimera.

Philippe Coutinho é a única verdade remanescente no panteão vascaíno.

Hélio Ricardo

Na incompetência de expressar minha opinião sobre o vasco, o colunista Hélio Ricardo fala por mim. Minha única nota é com relação a Carlos Alberto, a quem respeito acima de todos. Junto com o jovem jogador, é o único vale uma nota digna.

quinta-feira, 11 de março de 2010

60 dias de férias

O art 5º da Constituição Federal diz que todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza.

Acho lindo isso, só não via essa lógica aplicada ao juízes. Eles podem quase tudo. Ganham os maiores salários do país, tem recesso e até auxílio para comprar roupa. Somado a isso e outras coisa que deixei de fora, eles também tem direito a 60 dias de férias.60! Não é legal?

Pois é.

Graças a deus que o senhor Gilmar Mendes deixou a presidência do STF e assim nos poupou muita besteira. Talvez seja uma esperança vã, mas o novo presidente, Cesar Peluso, avalia que defender o benefício de 60 dias seria uma "batalha perdida". O ministro acha inevitável a redução das férias de juízes para 30 dias.

Coitados!

domingo, 7 de março de 2010

Don't you shiver?

Foi debaixo de muita chuva que a maior banda dos anos 00 entrou no palco para um concerto diante uma platéia de mais de 34 mil pessoas na praça da Apoteose no Rio de Janeiro. O Coldplay se apresentava no Brasil pela terceira vez e eu estava lá!

A primeira musica tocada foi um tema do ultimo cd(Life in technicolor), depois vieram Violet Hill e.......

então um conhecido canhão laser verde iluminou os céus do Rio. Ao piano, Chris começou os acordes de Clocks. Assim, a queima roupa. O som, que estava alta e claro, parecia vir todos os lugares. Um pouco de longe pude ver o marido de Gwyneth Paltrow tocar e cantar sua canção mais emocionante. Vi pessoas se abraçando, contentes de estarem ali; outras apenas olhavam pra o céu cantando em silêncio; a maioria, assim como eu, preferiu gritar o mais alto que podia. Foi o primeiro de muitos coros da noite de 28 de fevereiro de 2010.

Por incrível que pareça, mesmo depois de Clocks, esse fã ainda não estava extasiado. Apenas ok. Vieram Yellow com seus balões e telões amarelos e ainda mais duas que não sei o nome, até que Fix You aportou em meus ouvidos. Aí, nessa hora, me arrepiei todo. Nesse momento, parecia que todo mundo estava cantando ao mesmo tempo, de olhos fechados como estava, era possível sentir a vibração das vozes. Me lembrei do meu irmão que tanto falava da lembrança que sentia de mim quando morava em Sampa e escutava essa canção. Pedi o celular para Wilton e liguei para ele, que caprichosamente não me atendeu. Cretino natalense......

Seja como for, a ficha havia caído. Eu estava em um show do Coldplay e a apresentação havia começado ali!

A partir daí, o show foi um dos momentos mais bonitos que já presenciei na minha curta história. Veio a lindíssima Strawberry Swing, que tanto adoro; Gup Put Smile Upon Your Face, que mesmo em uma versão esquisita ficou bonita.

Ao fim de Gup Put... a banda deu um rápido break. Eu olhava ao redor e podia ver milhares de câmeras e celulares registrando aqueles momentos. As luzes voltam a se acender e vejo Chris sentado ao piano. Ele olha para a platéia e enfim começa os acordes de The Hardest Part. Bela canção que sempre me lembra uma certa pessoa, essa que não posso citar por questões contratuais. Roubei de novo o cel do Wilton e liguei, ela não atendeu. Uma desgraça, depois remediada quando Lost foi executada e a saudade grande bateu novamente.

Depois disso eu até poderia voltar para casa e cantar “Home, home where I wanted to go.....”, mas o show ainda não havia acabado.

Me lembrei muito da resenha escrita pelo xará Pedro Só, para o falecido site Usina do SOM, sobre o primeiro show da banda em terra tupiniquins em 2003. O jornalista deixou claro em cada palavra escrita como foi emocionante ver o Coldplay no auge. À época, os ingleses estavam fazendo a turnê do A Rush Of Blood to The Head, álbum que vendeu mais de 16 milhões de cópias. Pedro, um dos poucos críticos que respeito, narrou como a banda conduziu o show de forma que a pessoa ficasse extasiada, emocionada ao se sentir parte de tudo aquilo que estava acontecendo.

Mesmo sem querer, meu homônimo escreveu o que senti.

Momentos marcantes: eu e Wilton abraçados cantado Shiver, um bilhão de lembranças durante The Hardets Part, milhares de borboletas de papel chovendo junto com a água enquanto Lovers In Japan era executada, meu companheiro de viagem de olhos fechados cantando The Scientist. O pequeno palco no meio do público em que eleses cataram algumas músicas a pouquíssimos metros de todos. O desejo louco de que banda voltasse para mais um biss e por fim o público cantando Viva La Vida enquanto deixava a praça da Apoteose.

Havia acabado, agora só lembranças.

Engraçado que imaginei começar esse texto de várias formas. Pensei em dizer que não acreditava conseguir ir a um show do Coldplay; cogitei contar como conheci a banda e o papel por ela desempenhado no meu trajeto. Até narrar meu périplo até a praça da apoteose, abordo de uma taxi com um senhor que parecia não saber para onde ia, eu pensei em escrever. Mas não sabia como terminar.

Talvez não queira me despedir do momento que agora permanecerá apenas em minhas letras e lembranças. Talvez não queira voltar ao mundo onde o piano melódico é apenas entretenimento (ou uma anedota a ser contada) ante uma vida tão complicada. Talvez.....

Seja como for, não dá pra fugir do clichê e não dizer que foi perfeito, emocionante e inesquecível. Não quero e nem ligo se é clichê, afinal não existe nada mais chavão do que a alegria e a felicidade e nem por isso as pessoas deixam de procurá-las.

O Rio tem belas paisagens, uma topografia de tirar o fôlego, pessoas com um jeito de falar muito chato, produtos culturais de sobra, o pão de açúcar e o Cristo Redenter, que a todos recebe sempre de braços abertos. Mas no meio do sambodrómo mais famoso do mundo, quem fez valer uma longa e dispendiosa viagem, foram quatro ingleses que ainda acham que vale a pena fazer com que alguém se arrepie ou até mesmo que se sinta feliz. Parece bobagem, eu sei. Mas é uma coisa muito boa de sentir.

OBS.: uma queixa a ser feita, a banda relegou seu segundo e melhor cd. Em 22 musicas executadas, tocou apenas quatro. Aliado a isso faltou Everything’s Not Lost e Speed Of Sound. Mas nada que estrague o saldo.