O circo estava armado e então o julgamento do casal Nardoni começou. Antes mesmo do start, tudo já estava definido. Todos já tinham escolhido seus culpados. A opinião pública, sedenta por alguma justiça, acompanhava a tudo como se uma novela fosse.
Agora entendo melhor de novelas. Compreendi o apelo forte que ela emana. Parece-me que no Brasil as pessoas tendem a novelizar tudo. Uma coisa doida onde a novela vira realidade e a realidade novela, como no caso Nardoni.
Não sei da culpa e nem da inocência deles. Disso não entendo.
E se não foi eles, quem foi? Parece-me que esse foi o diferencial. O direito penal ensina: só existe crime com indícios de materialidade e autoria. E os únicos suspeitos são os dois condenados.
Blog, montagens, narração em tempo real, um gama enorme de "especialistas" dando seus veredcticos .... Um show midiático.
Mesmo depois do fim do circo (julgamento), a dúvida permanece. Afinal, como pode um pai matar um filho? Difícil de acreditar. Só não tão difícil quanto essa minha inocência em um caso como esse. Eles acontecem todo dia e em todo o Brasil.
Semana passada, uma moça foi achada em um matagal de uma cidade do Piauí, jazia brutalmente espancada, cheia de perfurações no corpo e com uma faca cravada no peito. Alguém se importou com ela?
Eu mesmo, que sou jornalista e bem informado, nem o nome dela sei. Lembro da Tallyne Teles, do Tim Lopes, do prefeito de Santo André. Lembro também do João Hélio, pobre garoto que foi despedaçado durante um trajeto de sete quilômetros pelo qual foi arrastado preso do lado de fora de carro de sua mãe, roubado pelos autores tragédia.
Não dá. Não dá para ver tanta coisa e não pensar que algo está errado. Um garoto que é esfacelado, outra que é morta com um tiro na cabeça, traficantes que ateiam fogo em pneus com pessoas dentro, pais matando filhos, crianças que aos 17 anos já praticaram homicídios suficientes para deixá-los na cadeia para sempre.... A lista é interminável.
Esse é problema! Tudo ficou comum, banal. É como Batman disse em Cavaleiros das Trevas: ficou muito fácil matar uma pessoa.
A fácil matar, noticiar, brigar e esquecer. É assim que as coisas funcionam hoje.
O desserviço proporcionado pela mídia pisca em vermelho forte, como o sangue que estampa as capas dos jornais todo dia.
Mas o que vai ela fazer? Falar apenas de flores e jardinagem? Não dá.... Nem elam nem eu e nem ninguém sabe o que fazer com esse axioma.
Fazemos isso enquanto marchamos orgulhosamente para um futuro cada vez menos humano, cada vez menos esperançoso. Onde parece que a vida existirá mais em novelas do que realidade.
Bicho estranho, esse ser humano, que além de acabar com seu planeta, espolia a si mesmo com a maior desfaçatez e sem o menor pudor.
Abra os olhos – O cemitério do esplendor
Há 3 semanas
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