Um ator desconhecido de uma peça teatral chamou o Piauí de cu e então o mundo desabou sobre sua cabeça. Seu nome bateu os TT’s mudial do Twitter, recebeu represálias no facebbok, Orkut e fóruns de todas as formas, Amadeo Campos o entrevistou como se fosse um criminoso e finalmente sua peça foi cancelada pelo o então presidente da Assembleia Legislativa do Piauí, o deputado Fábio Novo do PT.
Fato: Marauê Carneiro pisou na bola feio, sua manifestação foi mais do que infeliz, além de burra, pois desprezou a força das redes sociais na atualidade. Seu ato idiota é indefensável.
Os piauienses ficaram loucos com a história, visto que não é de hoje que esse tipo de estupidez acontece. Desde o próprio dono da frase citada pelo ator, o humorista Juca Chaves, passando pelos episódios de esquecimento dos limites do estado em mapas de livros didáticos chegando até o comentário ridículo do então presidente da Philips, Paulo Zottolo, que afirmou ao jornal Valor Econômico que, ao apoiar o movimento "Cansei", desejava remexer no "marasmo cívico" do Brasil, e afirmou: "Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado". Ou seja, o esse tipo de agressão é antigo e ninguém mais suporta ser motivo de chacota.
Fui um dos primeiros a desancar a atitude do tal ator no twitter, mas daí a apoiar atitude do deputado de cancelar o espetáculo é demais. Foi um ato Imoral além de uma censura grave. O fato é que a decisão de acabar com o espetáculo foi apoiada pelo imensa maioria do povo. Mordido pelas sucessivas agressões sem causa de existir, agride com a desmedida e inconseqüência que é característica do ofendido.
O que o povo tem de entender é que essa é uma postura que não é condizente com uma democracia, é uma ação autoritária. Foi com o desculpa de proteger a população que ditadura condenou o espetáculo teatral do Teatro Opinião e censurou as músicas de Chico Buarque.
É dever do deputado defender, incondicionalmente, a liberdade de todos os cidadãos brasileiros. Usar a desculpa de que estava velando o povo piauiense é balela pura, imoral e inconstitucional. O próprio artigo 5º da constituição piauiense assegura, “no seu território e nos limites de sua competência, a inviolabilidade dos direitos e garantias que a Constituição Federal confere aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país”.
Assim como o artigo quinto de nossa constituição assegura que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(...) e finalmente
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
Fábio Novo não foi bobo, jogou para galera. Fez o que o povo queria e ficou bem na fita, afinal demagogia dá ibope. Engraçado é que ele é jornalista e ator, um cara ligado às artes que censurou um espetáculo. Num é digno?, diria um amigo meu.
O que o nobre petista parece não saber é que não podemos achar que as leis estão ao nosso bel prazer, aplicando-a quando julgarmos conveniente. A lei é INDISPONÍVEL, não podemos abrir exceção quando acharmos que o motivo vale a pena. Liberdade existe para se tenha a opções de bater palma, criticar ou simplesmente ficar na sua.
O americanos lutam contra isso desde o tempos do Bush filho quando ele achou conveniente quebrar direitos humanos caso houvesse suspeita, veja bem, suspeita, de atividade terrorista. Nesse onda, querem ter acesso ilimitado a toda comunicação e ainda fazem as pessoas passarem por humilhantes revistas nos aeroportos. “Mas o motivo justifica”, diz o ministro americano da defesa.
Sempre vai ter alguém para dizer que justifica, que justifica se prender alguém por ser muçulmano (e potencial terrorista); que se justifica mandar um jornalista embora porque ele disse que o presidente bebe demais; que se justifica cortar a luz de uma peça porque ela é subversiva; que se justifica a humilhação de revistas em aeroportos porque a pessoa pode portar uma bomba; que foi justificável a prisão do Gil e do Caetano por conta da"tentativa da quebra do direito e da ordem institucional"; que se justifica o perseguição política e desrespeito aos direitos civis impostas pelo Macartismo por conta do perigo comunista; que se justifica censurar um espetáculo porque um de seus atores disse que o Piauí é um cu.
Lembrei do senador McCarthy, figura central das caças as bruxas ao comunismo em plena Guerra Fria. Seu nome hoje é colocado na fossa.
Fiquei atônito quando vi o chatíssimo militante de direita, Reinaldo Azevedo, comentar o caso Marauê com bons argumentos, conseguindo quase fugir da sua impregnante verve anacrônica. Disse ele que “o que está em baixa no país é a liberdade de expressão”, e ainda pontua o que ele chama de “Exceção Moral”. Quando todos defendem a igualdade entre os homens desde.....desde que não haja um oprimido no meio. Nesse caso, vale quebrar a constituição e aplicar a tal exceção. Eu repito, a lei é indisponível!
Diz Azevedo: “Não, eu não acho que a linguagem empregada pelo tal ator seja a melhor possível, não como expressão, sei lá, de uma crítica orientada segundo os critérios da economia política. Mas era só um cidadão dizendo suas bobagens no Facebook, como fazem milhões de pessoas hoje em dia. É claro que algumas pessoas podem se zangar com isso e também têm o direito de se expressar. No limite, podem tentar organizar um boicote à sua peça. É coisa típica de caipira ressentido, mas vá lá… Proibir, no entanto, como fez o deputado petista, a apresentação do espetáculo? Aí estamos diante de uma manifestação típica de ditaduras”.
Nem mesmo a fala estúpida de “caipira ressentido” anula seus argumentos.
Segue Reinaldo: “Sei que o deputado petista Fábio Novo se comporta como um dinossauro, um censor, um agente da ditadura. A única coisa que caberia a um democrata seria garantir a segurança para a apresentação da peça”. Ponto. Vossa Excelência perdeu a chance de ser chamado de democrata, de Gentlemen. Perdeu a oportunidade, o dever, de cumprir seu papel como guardião dos direitos de cada de cidadão, de combater a estupidez e ignorância com sensatez. Perdeu, passou. Vai ficar sua atitude demagógica e fanfarrona, apoiada pelo seu povo.
Não é assim que o povo do Piauí vai ser respeitado, não são com ações idiotas que nosso estado começará a ter um novo status. Censurando espetáculos, jogando ovos e sendo levianos só reforçamos nosso estereótipo de povo atrasado e caipira, aliás um caipira belicoso.
“Ah, acho que o tal carneiro será levado como exemplo”. Bobagem. No caso Paulo Zottolo, o Armazém Paraíba e outras grandes lojas boicotaram os produtos da empresa, tomando um prejuízo milionário, houve repúdio público do governador e outras ações e mesmo assim ocorreu o que ocorreu nessa semana. Temos que construir uma nova identidade, de povo inconformado com sua realidade pobre, aguerrido sim, do trabalhador que luta todo dia por um futuro digno, por mais educação, pelo exercício da cidadania de todos, e não de alguns. É assim que vejo o meu Piauí e assim que por ele vou lutar.
Abra os olhos – O cemitério do esplendor
Há 3 semanas
2 Comments:
Pedro, tem gente infeliz mesmo neste mundo, que deveria se calar certas horas. Uma estudante de direito de SP, dondóca, andou falando besteira contra os nordestinos. Tenho maior respeito pelos brasileiros, sejam de onde for. Gostei do blog, vascaino, também. Vejo que tem bom gosto. E quanto a ser poeta, poesia não se faz só com rima e métrica, mas com a alma.E boa alma.
Grande abraço!
ai que muxoxo!
Post a Comment