O pequeno Aidan Reed vendeu cerca de 3000 mil desenhos para custear seu tratamento contra Leucemia. Até então, os pais estavam na eminência de vender a casa quando a tia do pequeno teve a ideia de vender seus desenhos.
Agora sou pai e quando vi o rosto de Aidan, me veio uma vontade grande de chorar. E se aquele fosse o meu filho, o que deixei em casa com os olhinhos atentos e meigos, sempre pronto a me dar o seu sorriso a sua conversinha tão perfeita?
Se fosse ele, meu mundo desabaria e meus ombros perderiam o vigor, claro que teria de erguer a tudo e correr o mais rápido que pudesse em busca de toda a saúde que meu filho necessitasse. Não quero isso nunca. Essa corrida eu não desejo.
Quando se vira pai, a percepção de tudo o mais muda de uma forma bastante agressiva. “Pedro, te prepara para amar mais do que tudo, assim como ter medo também”, me disse uma amigo.
Pais são bichos paranóicos, sempre tentando precaver o que pode acontecer com seu filho. Já perdi as contas de quantas vezes acordei apenas para saber se Arthur estava respirando. É um acordar preocupado, temeroso de não encontrar mais o suspiro que agora guia sua vida. Chego, baixo meu rosto, levanto a camisa e vejo a pequenina barriga subir e descer num movimento gracioso. Roço meu nariz no dele, sorrio, dou um beijo e o assisto nos braços de Morpheu por mais alguns minutos.
É tudo muito louco, muito intenso.
Tudo mudou! O sentimento é outro. Minha postura agora é diferente. A despeito do meu ceticismo, desejo todo dia um mundo melhor, a cura para o câncer e a solução para o aquecimento global. Não há jeito, só posso lutar por uma amanhã mais saudável e seguro. Afinal, amanhã será sempre do meu filho.
Só posso desejar que apareçam bandas melhores do que aquelas que escutei e escuto, jornalismo bem escrito, cinema de qualidade e literatura perfeita. Vejo meu filho torcendo junto comigo pela Cruz de Malta, sabendo de sua história e a recitando com orgulho para seus amigos, tendo ciência que a inclusão e respeito são sentimentos caros e aplicáveis em todas a instâncias. Desde a nossa casa, passando pelo colégio e até chegar no futebol. Sempre foi essa a diferença de ser vascaíno e dela ele se orgulhará.
Quando ainda não nascido, o via danado, muito, e de personalidade forte como a mãe, assim como previa a minha calma latente e uma mistura doida de razão e emoção. Teria ele mais de mim ou da mãe?
Será ele meu amigo? Conversaremos francamente como os melhores amigos fazem ou me tratará com o comedimento típico dos filhos. Escondendo a parte difícil de seus dias. Entenderei se ele me contar que bebeu com 15 anos? Ficarei tranqüilo sabendo que ele gosta de aventura? Como saber lidar com o risco que ele e não eu corre? Não sei, mas terei de aprender.
Meu papel é ser um pai melhor do que o meu foi, assim como ser um esposo melhor. Encaro isso como uma obrigação e minha competência para qualquer coisa nessa vida se baseia nisso.
Conseguirei? Espero que sim.
Volto a olhar para a foto do Aidan e sorrio, a matéria conta que ele ficará bom. Excelente para todos e seus pais devem estar felizes.
Eu estou, mas devo ir.
O tempo é breve e meu futuro me aguarda em casa.
Ele se chama Arthur e é meu filho.
Vida longa ao rei.
Abra os olhos – O cemitério do esplendor
Há 3 semanas
1 Comment:
Vida longa ao rei.
Belos escritos.
Um abraço.
M.A
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