quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Perto das 23hs

Por volta das 22:25 desta quarta-feira um Vectra preto, de placa não identificada, atropelou uma moça no cruzamento da rua Guaporé com Coelho de Resende. O motorista, que estava em alta velocidade, não prestou socorro e por pouco não provocou outro acidente na avenida Centenário.

A mulher, que parecia não ter 30 anos, estava vestida de calça jeans e blusa amarela, em parte tingida de vermelho por conta de seu sangue. Após o sinistro, muitas pessoas chegaram ao local para ver o acontecia. Logo foi constatado que a vítima era moradora dos apartamentos que ficam ao lado da casa do coronel, em frente a invasão.

Conversava com Jussara e Catarina quando escutei um carro passando em alta velocidade pela avenida. Quando parecia se distanciar, o ronco do motor voltou a crescer. O motorista havia feito o contorno em frente ao espeto Zapp em direção à avenida Centenário. Segundo informações, por conta de sua velocidade e imprudência, o carro por pouco não se chocou em outro automóvel que passava pelo cruzamento. O vectra desviou e assim evitou um choque, mas ao custo do atropelamento da moça que há poucos minutos foi socorrida pelo SAMU, que aliás pouco demorou.

Com o choque a mulher foi jogada para cima e, de acordo com algumas pessoas, chegando a altura dos postes. Caiu de bruços. Parte da calça, no lado direito da cintura, havia rasgado em virtude do encontro com asfalto. Havia sangue em sua blusa, mas não muito.

Saí a porta e olhei para o lado direito, mas as pessoas que já estavam na rua olharam para o sentido oposto. Ao lado da merceria do seu Dico uma mulher levava as mãos a cabeça e aos céus, em gestos de total desespero. Pessoas correram, chegou um carro, duas motos, mais um carro e a multidão estava feita.

Até então não sabia o que ocorrera. Jussara estava entrando no carro para ir embora quando disse que iria com ela até o local do acidente e assim o fizemos. Alguns metros depois vimos as cenas acima descritas. Pedi que parasse, afinal estávamos próximos de casa e a pessoa poderia ser conhecida minha.

Não era. De alguma forma nunca achei que fosse, mas as circunstâncias apontavam para essa probabilidade. Vi sangue, coisa que não gosto e bem não me faz. Conversei com alguns conhecidos, fiz algumas perguntas, olhei e saí.

A moça felizmente estava viva. Gemia e chorava de dor com o rosto colado ao asfalto. Algumas pessoas tentavam acalmá-la.

Um pouco nervoso, disse a Jussara que fosse embora. Fiquei subitamente muito preocupado, com medo de que algo acontecesse a ela. Me tomou um sentimento meio dúbio: ao mesmo tempo que queria que dali partisse, não senti segurança de sua segurança, pois estava indo para longe de mim. OBS.: De alguma forma penso que na minha presença nada vai acontecer e assim acredito.

Me passou o sentimento de perda e por muito pouco não deixo-a ir embora. Lhe dou um abraço, um beijo e recomendações de cuidado. Na vontade de prolongar o momento fico protelando sua partida falando coisas sem muito fundamento. Já no carro, novos conselhos de cuidado. Ela parte. Vejo as luzes se afastando por duas quadras, penso que não deveria tê-la deixado ir, dou as costas e me dirijo a minha casa.

No caminho, agradeço por aquela pessoa não ser uma das minhas e avalio a ética de tal pensamento. Tal agradecimento não é quase a mesma coisa de agradecer por ser aquela moça a acidentada? Talvez, mas acho que não. Afinal meu pensamento não muda em nada o fato.

Chego em ksa, atendo o telefone, respondo que já cheguei e devolvo a pergunta. Mais preocupação. Lembro de meu pai andando por essas ruas, de minha mãe nas vielas do centro......

Minutos depois ligo e questiono se já em Ksa, ela responde que não, mas que está com o pai. Ainda que preocupado e inquieto, sossegado fico.

Escuto trechos de conversas pela janela. Pessoas passam na rua comentando o fato e praguejando o motorista.

Tomo banho, me sento ao computador na esperança de que a moça esteja bem e que o motorista seja identificado e punido. Fico pensado. Lembro de meus amigos, familiares, namorada e faço uma prece silenciosa para que nada de mal aconteça a eles. Nessa esperança vivo.

1 Comment:

Cat. said...

Texto muito bem escrito, pedro, além de tocante. Vc mescla um olhar jornalístico ressaltando os "fatos" mas também se inclui...humaniza a cena...faz dela algo real e próxima. Pra mim o melhor jornalismo é feito assim, pois a capacidade de quebrar a insensibilidade que existe nos dois lados da informação, ou seja, de quem a produz e de quem a recebe, é um desafio. comunicação social é isso. ter como horizonte a ética, a objetividade, a clareza, etc., mas é também dar condições para que as pessoas re-vejam a realidade e os acontecimentos a sua volta.

ótima perspectiva...e tal como vc...eu também espero que ela fique bem.