Declaradamente não gosto de novela. Na verdade não suporto. Admito é uma limitação. Assim como minha mãe não gosta de filmes que mostram uma realidade que não seja parecida com a nossa, a exemplo do Sr. Dos anéis, eu também não consigo compactuar com o que é mostrado pelas novela. Engraçado que minha justificativa é exatamente igual a de minha mãe. Não gosto porque ela não mostra nossa realidade, mas é vendida como se assim fizesse.
Absolutamente tudo que é apresentado nesses folhetins é uma caricatura da realidade. Na verdade, me corrijo, nem tudo. Por que muito é devaneio mesmo. Há muito tempo tenho essa opinião e tudo fez sentido quando li uma declaração da Glória Perez, autora da nova novela da oito Caminhos das Índias. “Não me interessa retratar pessoas reais”, disse a responsável por vários sucessos da Globo.
Realmente tudo se encaixou. “Deve ser isso o que todo os autores da Globo pensam”, disse pra mim mesmo. Por que se assim não for, como explicar o viado, aquele viado bem estereotipado desmunhecadodefalafinaminoso (bibonada mesmo), que deixa de ser viado em a Favorita. Ainda no mesmo folhetim tivemos a moral hipócrita mostrada quando a esposa adúltera que se arrepende da escapulida, mas que para ser merecedora de compaixão tem padecer enferma de terrível doença. Isso sem falar da maranhense com sotaque carioca e pose de baiana interpretada por Taís Araújo em Da Cor do Pecado. A novela mostrava até o povo de São Luís almoçando tapioca, que inclusive é conhecida com beijú na ilha.
Nada disso me atrai. Fagner ainda hoje é indignado com as músicas havaianas que tocavam na vila de pescadores cearense na qual era baseada a novela Tropicaliente.
Me irrita aquela moral fingida, hipócrita e dissimulada com a qual os gays são tratados. Com a palavra Santiago Jr: “(...)detestei América e aquele beijo não mostrado entre o Gagliasso e o namoradinho dele, ou aquela outra novela com lésbicas na qual duas meninas se beijam apenas quando ambas se fantasiam e encenam ‘Romeu e Julieta’, tornando possível um beijo lésbico quando todo mundo aceitou, de faz de conta, a sobreposição de um célebre casal heterossexual”.
Neste rol podemos ainda colocar o casal formado por Cristiane Torloni e Silvia Pfeifer em Torre de Babel. Não sabendo como lidar com as personagens e ainda tendo como desculpa a não simpatia do público por elas, o casal foi morto em uma explosão. É como meu irmão disse em seu texto Direitos Gays em relação ao filme Segredos de Brokeback Montain. Aqui tiro licença e ajusto aos folhetins. Uma novela com gays para heteros virem.
Não podemos esquecer da personagem Catarina, esposa de Jackson Antunes, em A Favorita. Aqui novamente invoco as palavras de outro para fazer delas minhas. “Para mim, particularmente, seria novidade ver o assunto sendo abordado com seriedade, dignidade e respeito, tirando a mulher lésbica dessa in-visibilidade que tanto os autores de novela gostam de colocá-las.”
E tem mais.
“Fiquei logo indignada em pensar que a maioria dos telespectadores que acompanham a novela (leia-se quase 90% de donas de casa mães de família), iriam mesmo achar o que o senso comum costuma achar: que uma mulher só ‘vira’ lésbica, quando sofre uma profunda e amarga decepção com um homem, como seria o caso da personagem Catarina que logo após ser enxotada pelo Léo, correria para os braços da Sttela”. Texto publicado originalmente no blog Mulheres de Cueca Palavras felizes para um blog de nome tão infeliz.
Ao assistir novela me sinto tão enganado quanto ao ler o jornal Meio Norte. Um veículo claramente loteado, mas que vende a cara de independente e imparcial. Nunca me esquecerei quando eles estrearam o penúltimo layout com o slogan JORNALISMO DO BEM e logo nos primeiros dias publicaram uma foto, tirada pelo Efrem Ribeiro, que mostrava uma enorme poça de sangue e um homem morto no centro. Me perguntei que bem fazia a publicação daquela foto?
Acho que talvez por isso não assisto novela. Odeio ser ludibriado. Mas como disse isso é uma limitação minha. Há quem diga que aquilo é puro entretenimento e que minha análise é sem fundamento, já que todas as pessoas sacam que aquilo não é a realidade. Realmente espero estar errado.
Abra os olhos – O cemitério do esplendor
Há 3 semanas
3 Comments:
Texto ma-ra-vi-lho-so!
dizer que todo mundo saca que é puro entretenimento é desconsideração demais com o Jackson Antunes, que levou uma surra num mercado, por conta de seu papel em A FAvorita.
Mas como sempre, a Globo gira em torno de seu mundinho particular e quer nos fazer girar junto. Senão girássemos, como ficaria a publicidade? E o consumo? E todo o controle que a grande rede tem sobre nós? Complexo...
Belíssimo texto!!!!!!
Gosto de assistir novelas...mas confesso que muitos temas não são tratados com a seriedade que deveriam ter...
Bjos
o Júnior tem toda a razão...vc é que é modesto demais pro meu gosto...rs...beijim, caçula!
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