"Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro"
Cazuza.
É difícil ser otimista no Brasil, muito difícil. Somos um país corrupto feito por corruptos para corruptos. Sim, somos todos corruptos. Não temos uma noção aceitável de bem coletivo, de interesse da maioria em detrimento do nosso. Paramos nossos carros em qualquer lugar, interrompendo o trânsito ou não; furamos fila indiscriminadamente; jogamos lixo em qualquer lugar na hora em que quisermos (somente no Rio de Janeiro são 260 toneladas recolhidas diariamente pelos garis); os ''gatos'' na luz elétrica pública, a ''cervejinha'' dos policiais em troca da leniência em relação a multas, o 'comércio de influências nas repartições públicas, até os camelôs querem ganhar dois boxes no Shopping da cidade..... Uma infinidade de práticas nocivas.
Nas últimas semanas o que vem tomando de conta dos noticiários é o escândalo dos atos secretos do senado. Um descalabro de corrupção que era editado em atos não publicados no diário oficial da casa, acobertando imoralidades como planos de saúde vitalícios para alguns funcionários; serventes e mordomos que ganhavam mais do que o presidente da república e pela trilha de lama continua.
Isso só demonstra o quanto nossa política está no fundo do poço, com perdão do clichê. A esperança de ética e transparência que respondia pelo nome de Partido dos Trabalhadores se mostrou totalmente furada, rebaixando a boa imagem que tinha até a igualdade, ou até menos, das outras siglas. Em troca da sede ensandecida de poder, o PT traiu a confiança de todos nós se tornando em pouco tempo algo semelhante ao antigo PFL. Se utilizando velhas práticas como o clientelismo, a troca de favores e cargos e, como não poderia deixar de ser, a corrupção pura e plena.
"Eu vejo o futuro repetir o passado"
O que é pior é que nos acostumamos com toda essa sujeira. O Estado de São Paulo passou mais de uma semana publicando todos os dias denuncias contra o Clã Sarney, mas vejo só que não foi o jornal que produziu o material e sim a Policia Federal. Já pelo quinto dia de denuncias ao invés de ficarmos cada vez mais indignados e horrorizados, nos sentimos enfadados. "Affffff, o povo num cansa de falar sobre isso não", escutei isso na rua. É com essa nossa atitude nefasta que o presidente do Senado continua sentado onde está e de lá não parece que vá sair.
Sabemos de suas falcatruas na Fundação José Sarney; na presidência do Senado; na aquisição de terrenos em Brasília; na compra de uma fazenda; no recebimento de auxílio moradia (R$ 3.800) e ocupação de um apartamento funcional mesmo possuindo uma mansão no Lago Sul; a nomeação de seu neto João Fernando e da prima de Roseana como servidores e ainda a nomeação da sobrinha Vera Portela no gabinete de Delcídio Amaral. Nesse carrossel tem ainda uma prima e uma sobrinha do genro de Sarney, além de sua própria imã que agora trabalha no gabinete do senador Epitácio Cafeteira; podemos citar ainda o uso de verba indenizatória para a contratação de uma empresa que teria organizado seu acervo pessoal. Acabou? Não! Temos a história do seu neto José Adriano que é suspeito de envolvimento em um esquema de empréstimo consignado no senado; a ocultação da Justiça Eleitoral de uma mansão no valor de 4 milhões de reais e por aí continua. A última divulgada foi que o nosso ex-presidente ganha 52 mil reais oriundos de duas aposentadorias (TCE e Governadoria)e ainda de seu salário como senador. Para quem não sabe o teto do funcionalismo público é o salário de ministro de STF(R$ 24.500). Todos essas informações são públicas e notórias e o que acontece? Nada!
Devo admitir que essa é uma oportunidade em que tudo fica muito claro no jogo político. Fica nítida a concordância de nosso presidente com qualquer fato ou prática que dê o máximo de tranqüilidade a seu governo e mantenha sua popularidade em alta revelando um ser vaidoso e fraco; a ausência quase que total de interesse do coletivo no trabalho de nossos senadores; a alienação ou apolitização de nossa população, mais interessado no ouro do Cielo do que nos crimes do presidente da mais alta casa legislativa do país. Parece-me até ironia o Tribunal de Justiça do Distrito Federal ter proibido o Estadão de publicar novas matérias com base em gravações da PF, porque nesse quadro terrível só falta mesmo censura a imprensa. Sei que o TJ-DF tem um bom argumento já que as investigações correm sob segredo de justiça, mas não deixa de ser irônico e triste.
Quem me ajuda a tecer esse panorama é o grande jornalista Clovis Rossi:
Primeira imagem: Luiz Inácio Lula da Silva abraça Fernando Collor de Mello.
Ajuda-memória: Fernando Collor de Mello vem a ser aquele cidadão que, além de ter sido o único presidente afastado do cargo por falta de decoro em um país em que o decoro é artigo raríssimo, pagou a uma mulher para dizer na televisão que seu adversário (justamente Lula, naquele momento) quis obrigá-la a abortar da filha que ambos tiveram (Lurian).
Esse tipo de atitude é tão indecente, indecorosa, delinquencial que desqualifica qualquer pessoa para a vida pública (a rigor, também para a vida privada).
Não é, portanto, passível de perdão.
Lula até poderia aceitar o apoio de Collor para fazer parte da maioria governista.
Aceitou o apoio de tantos outros desqualificados que, um a mais, um a menos, nem se notaria.
Daí, no entanto, a abraçá-lo publicamente e a elogiá-lo vai uma distância que, percorrida, desqualifica também a vítima de antes.
Segunda imagem, a de ontem: Fernando Collor de Mello cumprimenta José Sarney.
Ajuda-memória: Fernando Collor de Mello vem a ser aquele cidadão que com maior virulência atacou o governo Sarney, a ponto de chamá-lo de ladrão, pelo que jamais pediu desculpas.
Sarney nunca escondeu o profundo rancor que sentia pelo seu desafeto, que, aliás, só se elegeu porque era o mais vociferante crítico de um presidente que batia recordes de impopularidade.
Ao abraçar Collor e aceitá-lo na sua tropa de choque, Sarney implicitamente dá atestado de validade aos ataques do Collor de 1989 e, por extensão, junta-se a ele na lama.
Que Collor, o indecoroso com condenação tramitada em julgado, ressurja com os mesmos tiques e indecências de antes compõe à perfeição o lodaçal putrefato que é a política brasileira.
"Você acredita no Brasil?"
Oficialmente, Sarney já foi absolvido de 4 das representações que existem contra ele no Conselho de Ética(???) do Senado. Na ultima quinta feita(06.08) o capitão nascimento de JS interpelou de forma tosca o senador Tasso Jereissati até se utilizando de palavrões para ofendê-lo. Não sei o que escrever, a relação desses seres com o poder público é de tamanha intimidade que eles literalmente confundem o parlamento com suas casas, falando o quem bem entendem, empregando quem desejam e principalmente fazendo do senado uma grande privada.
Ontem o senhor Paulo Duque (PMDB-RJ), senador que não recebeu um único voto já que é suplente do suplente de Sérgio Cabral no entanto ainda sim presidente do Conselho de Ética, entregou seu parecer com as 7 representações restantes contra Sarney. A Folha de São Paulo já revelou que seu parecer é pelo arquivamento de todas elas. Seu principal argumento é a falta de provas!?
Eu tento não ser pessimista com esse país, mas não tá dando não. Em conversas de mesa de bar ou ao caminho do shopping eu e Wilton tentamos entender, compreender como essas coisas acontecem e nada muda e sim parece piorar. Chegamos sempre ao mesmo ponto da frustração, pois invariavelmente percebemos que tudo não é empurrado goela abaixo, mas sim deglutido sem crítica alguma como que bebendo água. Ou seja, somos cúmplices. E ainda tenho que escutar aquela velha frase: Todo Mundo Faz!. Já que isso serve como consolo, alforria, anistia para cada um de nós, afinal nunca sabemos quando estaremos no foco das atenções, não é?
Uma desgraça esse lugar.
"Eu posso estar errado, mas eu devo cantar esta canção...."
Um dia como hoje, Ira
OBS.: Citações de Cazuza em o Tempo Não Para e Edgar Scandurra em Um dia como hoje, respectivamente.
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