terça-feira, 3 de novembro de 2009

A "prostituta" e os alunos putos

“Puta”; “prostituta”; “vou te estuprar”. Essas foram algumas das manifestações de alunos da Uniban para Geisy, estudante de turismo acusada, julgada e sentenciada pelos seus colegas de IES por usar um micro-vestido (há controvérsias) provocativo.

O motivo, o vestido insinuante, causou um pandemônio que parou as atividades de todo o campus apenas para ver passar o tal modelito. O tumulto foi filmado e os vídeos acabaram na internet. Nas imagens é possível ver a turba se manifestando negativamente, eufemismos a parte, com relação à moça. Até professores da instituição acharam justificável a histeria coletiva de cerca de 700 imbecis (alunos).

Um secretário e professor da instituição disse que "A aluna veio trajada de uma determinada forma e isso provocou os alunos". Perguntado se a Uniban acha que isso justifica a agressão à aluna, o secretário foi contraditório. Inicialmente disse que "ela deu causa, ela deu motivos", mas logo em seguida amenizou: "Também não era motivo para tanto alvoroço". Uma graça né?

Se educadores se manifestam assim, não me espanto com a atitude da massa, que perseguiu Geisy por todo o campus xingando-a de todos as maneiras. Tinha aluno(talibã?) subindo em cadeira apenas para filmar o tal vestido rosa. A moça teve que se refugiar dos agressores em uma sala, só conseguindo sair de lá acompanhada de escolta policial.

Me pergunto se é nas mãos de gente como essa que está o nosso futuro? Gente amoral, preconceituosa, despreparada e ignorante. Ainda mais; alguém acha que esse tipo de conduta é apenas dos estudantes da Uniban do campos de São Bernardo? Alguém crê que algo assim não se daria em outros locais. Não não, em tempos de banalização extrema da mulher e de toda a vida cotidiana, posso afirmar que aquela loucura encontra eco em muitos lugares. Um contra-senso em tempos em que a tolerância à diversidade é ordem do dia e já faz parte do manual do politicamente correto, mas talvez esses alunos tenham perdido essa aula.

Fica fácil de “provar” isso acessando aos fóruns. É imenso o número de comentários culpando a aluna pelo ocorrido. E é interessante dizer que o fato se deu nas imediações da maior cidade do país, cosmopolita, moderna, multifacetada; ou seja, na região metropolitana da grande São Paulo.

O mundo dá voltas.....Fico me perguntando o que eles diriam se o caso tivesse ocorrido no Nordeste?

Quem fez um ótimo comentário, como sempre direto e ácido, foi o apresentador Rafael Bastos do CQC. "Inscrições abertas para o curso de graduação em Moda e Nazismo. Uniban: uma universidade irada!", disse ele no Twriter.

É importante frisar que o direito de todos aqueles alunos que provocaram aquela histeria sem sentido tem de ser resguardado, afinal eles têm direito de reprovar, de achar vulgar, de não concordar com uma aluna frequentar as aulas com uma roupa extremamente curta (nem é tão curta assim). Mas por outro lado, como disse um internauta em um fórum do IG, este direito foi deturpado e perdido quando agiram com desrespeito e preconceito para com o próximo.

Nada de novo


Esse caso não é isolado. Essa loucura é de todo Brasil e em todas as classes, já que há guerra nos morros do Rio de Janeiro; confronto entre torcidas organizadas (rivais e até do mesmo time); quando um Juiz de direito foi expulso de um município maranhense pela população local e o fórum foi queimado; ou ainda quando o MST invade uma fazenda e derruba sete mil pés de Laranja e nada acontece. Poderia ainda citar nosso presidente do senado argumentando com a maior cara de pau que avô não nega pedido de neta, se referindo a vaga arranjada para o então namorado da netinha que passou a ganhar quase 4 mil reais sem nem pisar no Congresso e por aí vai.

Dá medo de saber que grande parte da juventude ainda acha que a mulher deve se vestir de forma determinada, se comportar de maneira específica e que caso o contrário é perfeitamente cabível violentá-la, seja oral, física ou psicologicamente quando ela escapa dos padrões. Entende? É justificável!

Para quem quer ir embora de Teresina, assistir a essas coisas faz o pensamento se mover e dispersar. Dá vontade de ir embora do mundo, mas isso é impossível.

Então paro, reflito e escrevo. Infelizmente nada disso parece ter poder algum, e é aí que olho pra cima e peço ajuda. Talvez só assim algo mude.

1 Comment:

Unknown said...

ir embora do mundo é uma boa pedida