A tormenta chegou. Ficou para trás o eco de dias tão tranqüilos. O doce da voz, do cheiro e pele agora são apenas lembranças. Vivas, próximas, mas em continuo afastamento. Ai, diria uma amiga, as coisas acontecem a nossa revelia.... então qual o nosso papel, se não posso interceder? Apenas assistir?
Interceder, intervir, empenhar, lutar, meter-se, sobrevir! A impressão era que fazia isso. Mas e aí? Me derrubaram, jogaram-me no chão e pisaram no meu rosto mostrando toda a minha impotência? Apareceu algum ÁS que me abateu em pleno voo ou simplesmente desisti? Entreguei eu minha espada e cavalo, desobedeci ao meu oficial, desertei?
Nem o álcool, os amigos ou minha guia-razão me dão respostas contundentes. Se perdem junto comigo.
Ainda agnóstico, mas suplicando por orientação perante os deuses; sonhando sonhar com Morpheus para quem sabe ele me dê a saída do deserto como fez a Marco Pólo. Ou melhor, dormindo para encontrar o sábio chinês que renegou a lembrança de seu filho morto para se dedicar a um bichano filhote, que mesmo pequeno estava vivo. Mas essas todas são histórias, sonhos.
A realidade é o dorso pesado, alquebrado pela incessante luta, pela peleja de um inimigo que parece muito maior e poderoso. Sim, mas que oponente é esse? Tem nome, sobre-nome, perfil? Com quem duelo?
Esse conhecimento não tenho e nem ninguém comigo o compartilhou. Divago que seja um carrasco sem rosto, voz e ainda covarde. Solapando ao primeiro sinal de fraqueza ou alegria. A verdade é que o embate real nunca houve, muito pior e doloroso: fui derrotado por uma idéia.
Logo eu, o senhor do domínio retórico, conde da razão cotidiana, prefeito da tranqüilidade... Fiquei indefeso pela inutilidade de minha armas, pelo vão balaços de meus canhões que disparavam a qualquer piar de ave ou grilo; bobo pelo surdo soar de minhas palavras e atitudes.
Agora quieto, contido, quase calmo e casmurro, espero o passar dessas águas.
Mas já me contaram, já me disseram e eu sei...
vai demorar
Abra os olhos – O cemitério do esplendor
Há 3 semanas
3 Comments:
"Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo"
O texto mais angustiante e ainda assim mais lindo que vc já pôs nas páginas desse blog.
Mas não tenha pressa...qto mais esmagador parecer o dia, mais colha as impressões ao seu redor e deixe a batalha de lado.
Às vezes, ganhar é não vencer.
Bjos
Junior, amor, achei lindo o poema do Mia Couto...Roubarei-o para o meu blog...;)
bjos mtos
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