terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O tombo do gigante

“Do porteiro ao presidente, os vascaínos tiveram um domingo para esquecer. A queda à Série B do Brasileiro levou os cruzmaltinos ao fundo do poço, abastecido por lágrimas que começaram a correr nos rostos dos torcedores durante a derrota por 2 a 0 para o Vitória. O resultado selou o capítulo mais triste da história do clube. Muito choro, protestos e a promessa de não abandonar o time marcaram o rebaixamento”.

Em 110 anos de existência, uma história coberta glórias, títulos e ainda a 4ª maior torcida do Brasil, o Clube de Regatas Vasco da Gama conheceu o inverso da vitória. Ficou íntimo da derrota plena, já que virou freguês do Flamengo e time da segunda divisão. O segundo colocado na lista de pontos do Campeonato Brasileiro, 4 vezes campeão nacional e de uma séria de outros títulos que nem esse post inteiro seria capaz de numerar, jogará com o Gama, ABC de Natal, CRB de Alagoas, Brangatino e outros times que juntos não tem um terço da força, títulos e torcida que Vasco tem.

“A tarde e a noite em São Januário foram completamente distintas. O estádio foi palco de uma bonita festa e demonstração de apoio até boa parte do duelo com os baianos. No entanto, logo o cenário se transformou. A consumação da queda levou torcedores a brigarem e sofrerem juntos.

“Nas arquibancadas, grandalhões, senhores, mulheres e crianças choravam. E choravam muito. Buscavam explicações e pareciam não acreditar no que presenciavam. No gramado de São Januário, logo após o apito, jornalistas fãs do Vasco sofriam da mesma maneira. Colegas de profissão se abraçavam e até reforçavam laços de amizade. Todos prometiam não recuar o ombro amigo.”

Interessante que com o tombo de meu time é que realmente percebo o quanto ele significa para mim. Comprarei até uma camisa, caríssima, para ajudá-lo e também porque é realmente a mais bela das camisas de clubes do Brasil. Lembrei de todas as discussões futebolísticas que ganhei frente a sempre maioria flamenguista (Modéstia a parte, minha capacidade argumentativa sempre foi maior do que a irremediável maioria de meus amigos). Lembrei de quando fiquei de recuperação pela primeira vez na minha vida e minha mãe, irritada e desapontada, me ofereceu como prêmio pela passagem de ano uma camisa oficial de meu time.

“Incrédulos, muitos vascaínos não quiseram deixar o estádio. Ficaram ali, sentados, até o anoitecer. Tentavam consolar uns aos outros, mas sem ir embora de São Januário. Alguns fizeram questão de demonstrar apoio. Apesar do sentimento de tristeza, uma torcedora exibia faixa que pode exemplificar o que ocorrerá com os vascaínos em 2009.

‘Na alegria e na dor, o sentimento não pára’, mostrava o pedaço de papel erguido pela vascaína. Mais de duas horas depois do final da partida, um porteiro do clube se derramava em lágrimas. Tomando uma cerveja e comendo um sanduíche, explicou. "O que machuca é saber que meus três filhos estão desesperados, chorando muito. O que é isso, cara, não acredito", desabafou Leonardo Souza.”

A descenso não poderia vir em hora pior, justamente quando o time havia se livrado do vampiro inescrupuloso que enriqueceu as custas do maior patrocínio que o Brasil já viu, quando o Bank of Boston foi investidor do Vasco. Eurico Miranda se aproveita da desgraça alheia como o urubu vive da morte do outro. Felizmente parece que a torcida está criando a consciência do que ele verdadeiramente é.

“O presidente Roberto Dinamite também se viu no meio de discussões. E das mais acaloradas. Desde o fim do primeiro tempo, o mandatário ouviu algumas críticas de torcedores próximos da tribuna. Em seguida, viu boa parte do estádio isentá-lo de culpa. Muitos cantaram contra o ex-presidente Eurico Miranda: "Ohhh, a culpa é do Eurico". Houve até bate-bocas mais quentes entre fãs dos dois dirigentes. Por pouco não terminaram em agressão física.”

A mim e todo os outros vascaínos, cabe agora não abandonar o time, afinal não devemos ser amigos arroz de festa. Aquele que na primeira adversidade abandona a Caravela. Como disse o repórter Alexandre Sinato, a torcida “nada (pode fazer) contra a presença da equipe na Série B de 2009, mas pode desempenhar papel importante para reconduzir o time do coração à elite”. Finaliza o jornalista: “Palco de conquistas. São Januário aguarda um motivo para comemorar”.

Ano estranho esse de 2008.

Nosso 2009 será longo, mas feliz ao fim. Tenho quase certeza.

Saio da facilidade de nada esperar e coloco minhas esperanças em Roberto Dinamite, meu novo presidente. Aguardando ansiosamente a volta do gigante ao topo da colina.

Um vascaíno de coração

Pedro Santiago.

Obs.: Matéria do Uol, publicada originalmente em: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2008/12/08/ult59u180458.jhtm

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