quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Cai a noite, cai a chuva. Chega o Natal

As luzes passam devagar pelo vidro embaçado. Uma, duas, três, quatro, várias pessoas andam pela avenida. Umas acompanhadas, outras sozinhas e algumas desamparadas. O rapaz de blusa preta e jeans azul toma seu sorvete despreocupadamente; a moça de cabelo preto e pintinha na bochecha olha para a porta como que esperando alguém, mas ninguém chega.

A garçonete sorri amarelo para o gracejo insolente que recebe. São tantas as vezes que nem agradece o obrigado ganho. Assim leva, assim vive.

Dessa cidade plana, cheia de quadras, esquinas, bares, cerveja, hipocrisia e cordialidade; se vê a construção das moradias trepadas em edificações verticais. Falar dessas pessoas por que? Elas só têm dinheiro, algum problema?

A surpresa é matéria escassa nesse lugar e nem precisa de crise para essa mercadoria sumir.

“Olá, tudo bom”, pergunta a moça vestida com uma linda saia.
Sem jeito e receoso o sujeito responde – Bem......bem sim. E vc?.

“Eu estou bem também. Não está linda a Frei Serafim? Adoro essa época do ano com seus enfeites e esperanças de coisas boas”.

Olhando para a avenida e ainda pouco convencido daquele diálogo responde. “Os enfeites são bonitos e avenida está linda....... mas não vejo essa época com esperança. Vejo isso como determinismo. ‘Olhe, vc tem que ser positivo um novo ano vem aí’. Não consigo acreditar nisso. Esse tempo é tão bom quanto qualquer outro para ter esperanças, para tentar melhorar e viver bem. Tento impor que minha época de ser feliz é hoje e amanhã também”. Disse o até então lacônico sujeito.

A despeito da intensa argumentação a moça maneia a cabeça, olha para ele e sorri. “Concordo com vc. Mas acho que não custa nada a ninguém ter um pouco mais de fé agora. Penso que deveríamos era aproveitar esse espírito e fazer com que algo mude, com que alguma coisa tenha significado. Acho que é bobice perder chances como essa. Não é porque todo mundo acha bonito o mar, que eu vou deixar de achar também”.

Enquanto escutava a moça que estava sentada no banco, o rapaz dava voltas em frente ao assento. Andando de um lado pra outro com as mães nos bolsos em um misto de contemplação e atenção.

Ao fim da resposta ele nada disse, apenas sentou a lado dela com os cotovelos apoiados nos joelhos. Passaram-se alguns minutos até outra palavra fosse dada entre os atores.

“Talvez vc esteja certa. Acho que é uma forma de não perder a esperança, de fazer sua parte”. Soltou olhando para ela e para o corredor de árvores.

A moça nada disse. Não demonstrou alegria nem desapontamento, parecia que estava unicamente pensando. “Ainda não vi se a decoração chegou ao fim da avenida. Vamos andar até lá e dar uma olhada?”, perguntou. “Vamos sim”, respondeu nosso sujeito.

Então na quarta-feira de chuvas eles andaram pela calçada até o fim da avenida sem grandes temas a conversar, sem pretensões a implementar. Apenas conversaram.

Feliz Natal a todos

1 Comment:

Tainah εïз said...

Esperança!!!
Um novo ano traz esperança a muitas pessoas. Esperança de dias melhores, de um novo emprego, de solução de problemas...