quinta-feira, 7 de maio de 2009

Um tostão pelo respeito

No ano passado o estado de Santa Catarina passou por uma das piores enchentes de todos os tempos. O saldo é catastrófico: quase 80 mil desalojados, mais de 120 mortes e um dano pesado na infraestrutura estadual.

Por conta desses eventos o estado recebeu a solidariedade de todo o país em forma de mensagens, doações e donativos. O jogador Ronaldo, balofo, doou 30 toneladas em alimentos, por exemplo. A mídia deu uma incrível contribuição para essa onda de solidariedade, produzindo programas especiais, disponibilizando contas para doações e uma infinidade de ações em prol das vítimas catarinenses.

No mesmo país sendo que um pouco mais ao Norte, há cerca de 3 ou 4 anos o Nordeste passou por uma da piores enchentes dos últimos 30 anos. A calamidade se espalhou pelos nove estados que sofreram humana e economicamente. Na Paraíba morreram mais de 25 pessoas e centenas de milhares ficaram sem casas em toda região. A mídia noticiou o fato como se fosse em um país tão distante como o Afeganistão.

Em 2009 a cena se repetiu. No Piauí são 60 mil atingidos pelas enchentes e situação mais crítica se encontra na capital Teresina que tem 64 bairros alagados. Em Barras 70% da cidade ficou debaixo d’água.

No Maranhão são mais de 150 mil atingidos. No município de Trizidela do Vale dos 19 mil habitantes, 15 mil tiveram suas casas invadidas pelas águas. Cinco Br’s do estado estão cortadas incluindo os acessos a capital São Luís. “O bloqueio de estradas no Maranhão agravou a situação dos flagelados. Várias cidades enfrentam desabastecimento. Com as estradas interditadas, faltam frutas e verduras que antes eram transportadas do Ceará para o estado”, atesta a matéria do portal G1.

No vizinho Ceará sete pessoas morreram e 165 mil foram afetadas pelas enchentes, diz a mesma matéria que ainda completa: “No total, 59 municípios sofrem com alagamentos”.

Muito relutei em fazer um paralelo entre a tragédia de Santa Catarina e do Nordeste, mas os posts de Julianna e Junior me deram o ensejo. Não me atrevo a uma comparação entre qual é mais séria ou trágica, mas sim da diferença de tratamento dado, que é estrondosa. Enquanto no caso do catarinense houve uma fortíssima campanha capitaneada principalmente pelas TVs Globo e Record, o Nordeste recebeu e recebe apenas a pena dos irmãos federados. A coisa é tão descarada que até um nordestino fez prática do desprezo pela região. O ministro da Integração Nacional Geddel Viera, que é baiano, indignou Teresina ao visitar a cidade no inicio da semana e afirmar que não viu calamidade na capital!!!! Para ele duas mil famílias desalojadas deve ser pouco.

O fato é que o espaço recebido pela calamidade nordestina é perceptivelmente menor, muito menor do que o dado ao caso sulista. É fácil comprovar essa afirmativa ao se abrir os maiores portais brasileiros: o G1 e o UOL. A notícia está lá, mas sem destaque ou impacto. Faça um teste e carregue a página nesse exato momento.

Não se trata de diminuir a importância da dor catarinense, mas sim do menosprezo a do nordestino.

Não tenho aqui teorias e nem argumentos para justificar ou explicar essa diferença. Posso tirar algumas conclusões do pouco que li e ainda das experiências a mim contadas por amigos e conhecidos. A mais recente é de Julianna dando conta da extrema ignorância do povo candango com relação ao nosso estado e região. E olha que eles são nossos primos, visto que são em sua maioria filhos de nordestinos. Outro relato forte foi de Edinamária, que me contou o grande preconceito que sofreu na USP por parte dos alunos e até dos próprios professores, sendo até preterida de uma vaga no Mestrado.

Realmente não compreendo e deixo a explicação a pessoas mais capacitadas como a já citada Julianna e meu irmão Junior. Essa diferença, na verdade essa indiferença, só me entristece e deixa um gosto ruim na boca. Aquele sabor amargo ultrajante que só tem igual em coisas como o racismo, o preconceito sexual e étnico. Essas coisas que parecem só existir em lugares tão distantes, mas que está bem aqui no nosso país.


PS.: A CHESF prevê para sábado, dia 9, a invasão das águas do Parnaíba na avenida Maranhão.

2 Comments:

Sandra Costa said...

saia do Piauí e verá que a coisa é muito pior do que se pensa!

adoreeeeei o seu texto e a sua perspectiva! merece ser reproduzido por milhares de vezes!

julianna said...

Concordo com a moça aqui...saia e veja o quanto é pior...
E a gripe suína é notícia...